Vários agricultores reunidos hoje em frente à representação do Parlamento Europeu em Bruxelas derrubaram e queimaram uma estátua do monumento que adorna o centro da Praça de Luxemburgo, em Bruxelas.
Os manifestantes acenderam também várias fogueiras diante do cordão policial que os separa do pátio que dá acesso ao edifício.
A polícia belga utilizou mangueiras do cordão de segurança montado pela polícia de choque para tentar apagar os fogos que estavam mais próximos, mas a fogueira no centro da praça com a estátua derrubada, pedaços de cartão e ferro ainda estavam a arder até depois do meio-dia (11:00 em Lisboa), segundo a agência noticiosa espanhola EFE, causando uma nuvem constante de fumo negro que dominou o protesto.
Tudo decorreu numa atmosfera marcada por palavras de contestação, mas também por momentos de alguma descontração.
Alguns dos agricultores gritavam palavras de ordem e tentaram aproximar-se o mais possível da representação do Parlamento Europeu, empunhando cartazes e muitos deles também as bandeiras dos diferentes países da União Europeia (UE).
Outros passaram a manhã a beber cerveja ou a conversar junto às fogueiras improvisadas. No centro da Praça de Luxemburgo, perto do local onde ardia a estátua queimada, chegaram a montar uma mesa com comida e bebidas, tudo isto com música a tocar ao fundo e o som constante das buzinas dos tratores estacionados a bloquear a passagem de veículos na estrada da praça e das ruas adjacentes.
O protesto bloqueou desde o início da manhã várias ruas do bairro de Bruxelas onde se situam as instituições europeias, coincidindo com um Conselho Europeu extraordinário que reuniu os líderes dos 27 Estados-membros da UE.
Centenas de agricultores têm participado em protestos em vários países europeus para denunciar os baixos preços que lhes são pagos pelas empresas de distribuição, a regulamentação ambiental, a sobrecarga administrativa e os acordos de comércio livre, como o que ainda está por concluir entre a UE e os países latino-americanos do Mercosul.
Embora esta vaga de protestos na Europa não fosse um tema que os líderes da UE tinham planeado abordar na cimeira, que se concentrou em desbloquear um pacote de ajuda à Ucrânia, alguns chefes de Governo, como foi o caso do primeiro-ministro belga, Alexander de Croo (país que assume atualmente a presidência semestral do Conselho da UE), defenderam a necessidade de abordar esta questão à entrada da reunião.
Algumas horas mais tarde, quando a imagem da estátua arrancada pelos agricultores na praça em frente à representação do Parlamento Europeu circulou nas redes sociais, o próprio De Croo lamentou este gesto numa publicação na rede social X (ex-Twitter).
O monumento vandalizado foi erigido no final do século XIX e presta homenagem ao industrial britânico John Cockerill, que foi a força motriz da indústria siderúrgica e ferroviária belga.
De Croo afirmou que “é completamente errado retirar a John Cockerill o estatuto de símbolo da indústria belga” e apelou a que se evite “o choque entre a agricultura e a indústria”.
“Os agricultores e os empresários não se opõem. Precisamos de ambos para uma economia forte e sustentável”, escreveu o primeiro-ministro belga na mesma publicação.