A União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro (UABDA) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) denunciam a continuada situação de preços baixos na produção agrícola que, aliada às dificuldades de escoamento e aos cada vez mais elevados custos dos factores de produção, estão a obrigar os Agricultores a abandonar a actividade.
Tomando como exemplo o sector do leite os preços continuam em queda face ao mês e ao ano anterior e a níveis médios de há quase 20 anos. Em Março, Portugal registou mesmo o preço mais baixo da União Europeia (29,9 cêntimos/kg), situação que a continuar levará à liquidação das já poucas explorações familiares existentes, num sector importante para a região. Só no último ano, encerraram cerca de 30 explorações leiteiras no distrito de Aveiro e mais poderão encerrar, se os preços se mantiverem em baixa, os custos de produção continuem a aumentar e as exigências que a Política Agrícola Comum (PAC) coloca aos pequenos produtores continuarem a estrangular a Agricultura Familiar.
Albino Silva, dirigente da UABDA, salienta que “são necessários apoios técnicos e financeiros para resolver os problemas com que se debatem relativamente à questão do bem-estar animal e que o Governo deve defender a produção nacional de modo a garantir melhores preços à produção”.
O cenário de preços baixos alastra-se a outras produções além do leite. Para dar alguns exemplos, a cenoura paga ao produtor ao preço médio de 0,25€ é vendida nas grandes superfícies a um valor 280% superior; os bróculos com margens de 288% e o repolho a +619%. Isto não pode continuar! É uma situação escandalosa a que é preciso dar solução. O Agricultor que trabalha de sol a sol não pode continuar a ser o elo mais fraco da cadeia de distribuição agro-alimentar. E o Consumidor também não pode continuar a ser explorado.
Carlos Alves, dirigente da UABDA, refere que “os produtos dos pequenos e médios Agricultores não são valorizados, ao mesmo tempo que sofremos uma avalanche com os produtos que vêm de fora. Portanto há um problema muito importante que é preciso resolver através do apoio à produção e comércio locais e da dinamização dos circuitos curtos e mercados de proximidade”.
É preciso pôr fim à “ditadura” comercial da grande distribuição, regulando e fiscalizando a sua actividade, ao mesmo tempo que deve ser estabelecida a preferência obrigatória por produtos alimentares de origem local e provenientes da Agricultura Familiar no fornecimento de cantinas e refeitórios de entidades públicas e criados apoios públicos aos mercados locais de maior proximidade entre produção e consumo. Ao encurtar distâncias, ganha o ambiente, ganham as economias locais e ganham também os consumidores, mantendo-se o Mundo Rural vivo e com Agricultura Familiar a produzir.
Nesse sentido, a UABDA e a CNA consideram absolutamente fundamental que se avance decididamente com a implementação das importantes medidas preconizadas pelo Estatuto da Agricultura Familiar aprovado há mais de dois anos.
A Agricultura Familiar tem um papel fundamental no aumento da produção alimentar nacional, na qualidade e saúde alimentar, na coesão económica, social e territorial, contribuindo ainda para o arrefecimento do planeta.
Mas só é possível colher os benefícios ambientais, sociais e económicos da Agricultura Familiar, da pequena e média agricultura, apoiando a produção e o rendimento dos pequenos e médios Agricultores, com outras e melhores políticas agro-rurais, nomeadamente com outra Política Agrícola Comum (PAC).
Manifestação em Lisboa a 14 de Junho
A UABDA junta-se à CNA e Filiadas numa Manifestação que contará com centenas de Agricultores, em Lisboa no dia 14 de Junho, pelas 14h30, por ocasião da reunião dos Ministros da Agricultura da União Europeia, para denunciar esta e outras situações que estão a contribuir para o empobrecimento dos pequenos e médios agricultores e para o desaparecimento de explorações agrícolas na região.
“O rumo das negociações da reforma da PAC não é favorável à Agricultura Familiar e não melhorará o rendimento dos Agricultores. Ao assumir a presidência da União Europeia no primeiro semestre deste ano, quando se prevê concluir estas negociações, o Governo português tem especial responsabilidade”, afirma Alfredo Campos, dirigente da CNA.
A 14 de Junho, vamos a Lisboa exigir que a PAC dê resposta ao problema dos preços baixos à produção que, aliada a todos estes custos elevados dos factores de produção, leva a que o Agricultor não consiga sequer um rendimento para poder sobreviver.