Dario Gonçalves de Lima tem 53 anos, “uma vida inteira” dedicada à criação e pastoreio e pela primeira vez “viu o terror” passar pelos montes de Gondoriz, em Arcos de Valdevez, e matar-lhe 68 cabras de raça bravia.
“Isto é um terror. Contado não tem jeito. Só mesmo visto. Nunca ouvi falar de uma coisa destas. Sou pastor desde criança e nunca ouvir falar de coisa igual. Hoje vieram aqui pessoas com mais de 80 anos para verem o que me aconteceu e também nunca tinham visto tal coisa”, contou à agência Lusa Dario Lima.
Ainda abalado, o pastor do distrito de Viana do Castelo foi dizendo, por entre alguns soluços de comoção que mal conseguia travar, que não sabia explicar como se tinha passado aquele “terror”.
“Começou a escurecer muito, senti dois raios muito fortes, começou a cair pedraço e encostei-me a uma pedra. O rebanho, com cerca de 350 cabras, estava a 100 metros de mim. Quando me apercebo, vejo duas cabras atordoadas, a cambalear, não se seguravam. Olhei para lado e estava tudo morto, 68 cabras”, apontou.
Na altura, cerca das 15:00, o pastor falava ao telemóvel com um colega que também tem um rebanho grande e comentou achar estranho ver as duas “cabras a tremelicar”.
“Quando olho para o lado estão todas estiradas, todas mortas. Nem estão feridas nem nada. Rebentaram todas por dentro”, insistiu o pastor, que admitiu ter “estremecido um bocado” com os relâmpagos, mas não sofreu “nenhuma mazela”.
“Não conseguia falar. Fiquei sem fala, sem ver, sentei-me um bocado a chorar e depois é que pedi ajuda à minha mulher e ao meu irmão, que me vieram socorrer e juntar as cabras que fugiram com os raios”, referiu, entre novos soluços.
“Antes queria perder cinco mil euros do que perder as cabras. Não há cabras novas para comprar e as que há são caríssimas. Custam 80 e 100 euros cada uma. É uma raça antiga, antes chamam-lhe serrana. Se eu fiquei em pânico, a minha mulher nem viu, senão desmaiava”, atirou Dario.
Ainda mal refeito do “choque” das cabras que morreram, algumas cheias para parir”, não escondeu a preocupação com as crias que ficaram na corte.
“São cerca de 10, alguns com 15 dias de nascidos que vão morrer de fome, coitadinhos. Não é como os vitelos, não pegam no beberão”, observou.
Além dos técnicos municipais e do vereador com o pelouro da proteção civil municipal da Câmara de Arcos de Valdevez, o pastor falou com representantes do Ministério da Agricultura, mas não sabe se vai ter “direito” a alguma ajuda.
“Não sei se me vão ajudar, mas eu vivo disto. Vou fazer 54 anos, criei os meus filhos com isto. É a minha profissão. Venho para os montes da freguesia de manhã cedo, pôr o rebanho a pastar, com a ajuda dos quatro cães de raça Castro Laboreiro e cão de guarda transmontano, e à noite recolho as cabras para um barracão”, explicou.
Por encontrar estão também dois dos seus quatro companheiros de pastoreio.
“Depois do relâmpago dois cães desaparecerem. Nunca largam as cabras e nunca mais os vi”, disse.
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