Ao longo das últimas semanas, muito se tem falado de situação em que vivem os imigrantes a trabalhar, sobretudo, na agricultura em Portugal. Em Torres Vedras, há centenas de trabalhadores nos cerca de 700 hectares de estufas existentes no concelho. Ali, chegaram a ser detetados estrangeiros a viver em antigas pecuárias e em armazéns sem as mínimas condições, mas a maioria dos empresários agrícolas da zona tem todas as condições para os alojar. E os trabalhadores, muitos imigrantes, mostram-se satisfeitos com as condições de trabalho e de habitabilidade.
“Olá, bum dia, tudi bem?”
Pratibha Shah está há dois anos na região Oeste, com o marido e a filha e já fala algum português. “Pouco, pouco, não é muito”.
Para, por momentos, de limpar os tomateiros no interior de uma estufa de grandes dimensões da HortoMaria, que ao todo tem 20 hectares na zona de A-dos-Cunhados. É enfermeira de formação. Saiu da sua zona de conforto, como a própria admite, e veio como todos os imigrantes à procura de outras condições de vida. Tem de ajudar parte da família que deixou no Nepal. Já não tem mãe, o pai casou com outra mulher, mas tem de “olhar pelos irmãos: duas irmãs e um irmão. Tenho de lhes enviar dinheiro, porque eles dependem de mim”.
Não gostou de ver as notícias recentes de Odemira, envolvendo os seus compatriotas. “Sinto muito pelo que estão a passar e peço ao Governo português novas regras para os imigrantes, como nepaleses ou indianos”. E lamenta que quando tem de ir ao SEF, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, haja quem os trate de “forma rude”. Ainda assim, confessa que não podia estar mais satisfeita por trabalhar nesta exploração agrícola, onde lhe pagam um ordenado e a respeitam.
“Temos uma ótima relação com o patrão, que nos trata como amigos. Temos uma relação muito amigável. Não sinto que trabalho noutro país. Estou muito contente por trabalhar aqui”.
Ao todo, são 64 os trabalhadores nesta empresa. Paulo Maria, o proprietário da HortoMaria, admite que raramente recorre a empresas de trabalho temporário, porque “muitas vezes nos oferecem preços que, só pelo preço, nós não contratamos. Porque achamos que há ali exploração”.
Noutra estufa, no topo de um carro metálico alto, que percorre por uma estrutura no chão, também de metal, um corredor de dezenas de metros de comprimento, Bijay Lama colhe feijão verde de plantas que se estendem até quase ao topo da estufa.
Há um ano que ali trabalha e é um dos que vive numa casa no interior de uma das propriedades da empresa.
Tem as condições mínimas, assegura Paulo Maria. Até internet e televisão por satélite, com canais asiáticos para que possam estar informados sobre o que se passa nos seus países de origem.
“Tomara muitos portugueses viverem naquelas condições”, remata Paulo. Bijay vive com mais três compatriotas. Cada um, garante, paga 100 euros, “que inclui eletricidade e água. Só 100 euros”. Ganha o salário mínimo nacional, mais horas extra diárias.
“O mínimo são 600 e tal, o mínimo decretado pelo Governo português. E fazemos pelo menos mais duas horas extra por dia. Por isso, chega aos 800, 900 e qualquer coisa”. Soma-se a isto o subsídio de alimentação.
“Os nossos trabalhadores têm subsídio de alimentação no máximo, que são seis euros e qualquer coisa. E recebem 14 meses, como qualquer cidadão”, refere Paulo Maria.
E quando há necessidade de fazer horas extra, “recebem as horinhas todas”. No pico do trabalho, agora no verão, em que fazem mais horas, “muitos deles recebem acima dos mil euros. Acima dos 900 ou mil euros”.
Para este e outros empresários da região, os colaboradores são peça fundamental nas empresas.
“Se não os tivéssemos no Oeste, a maior parte das empresas fechava”, assegura o proprietário da HortoMaria, que acrescenta que “na região são milhares de trabalhadores – e portugueses não existem. Tem de ser esta gente. Se tivéssemos portugueses, obviamente não estaríamos a contratar mão de obra estrangeira”, conclui.
Além dos trabalhadores asiáticos, a empresa dá trabalho a imigrantes de outras nacionalidades.
Ao ver a situação que se viveu em Odemira, Jacielle Ramiro da Nicole, uma brasileira de Espirito Santo, não só ficou chocada como recordou um período da sua vida.
“Já passei em lugares para trabalhar em que