O nosso técnico, Pedro Sarmento é um dos autores do artigo científico recentemente publicado que destaca a importância do estudo dos padrões de dispersão de linces nascidos em cativeiro (ex-situ) e de exemplares selvagens translocados, no contexto da reintrodução da espécie. A metodologia de monitorização usada é outra dimensão relevada.A Biological Conservation publicou um artigo de um grupo de investigadores e técnicos do LIFE Lynxconnect, com várias observações sobre a dispersão pós-libertação em ambiente natural, de linces-ibéricos (Lynx pardinus) nascidos em cativeiro e daqueles provenientes de meio selvagem. O estudo dá suporte ao uso dos primeiros (ex-situ) em novas áreas ainda não ocupadas, mas com prioridade à utilização de linces selvagens no reforço de populações já existentes, sublinha Pedro Sarmento, um dos autores do artigo e técnico do ICNF. Várias conclusões terão aplicação transversal a outros projetos de recuperação de populações de felinos.
Há cerca de 15 anos, quando se iniciou o programa de reintrodução da espécie, incluindo no Vale do Guadiana, a urgência da situação impediu uma avaliação prévia da forma como iriam reagir os felinos (de cativeiro e selvagens) introduzidos em novos habitats. Para colmatar essa situação, investigadores portugueses e espanhóis recorreram à análise detalhada dos dados de GPS, sobre a dispersão de 161 linces-ibéricos de nove populações diferentes, explica Sarmento.
Foi possível identificar cinco fases /tipos de movimentos: estabelecimento da área de residência (algumas mais estáveis, outras mais transitórias), excursões, dispersão após a libertação e movimentação entre diferentes áreas de residência. A partir da comparação das dispersões de linces nascidos em cativeiro, de linces selvagens translocados e outros sem translocação, avaliaram-se as diferenças verificadas nas fases de movimentação, entre sexos , idades e populações.
“A maioria dos linces, independentemente do grupo, conseguiu estabelecer territórios, o que é um bom sinal para o sucesso da reintrodução”, vinca Pedro Sarmento. Mas notou-se que “só quando atingiram o estado adulto é que machos e fêmeas nascidos em cativeiro estabilizaram efetivamente os seus territórios e apresentaram diferenças no seu tamanho de acordo com o sexo, com os machos a exibirem territórios maiores”. Uma diferença relevante, dado que, em linces selvagens, a diferença é notória logo quando os indivíduos são subadultos.
Mas observaram-se ainda outras diferenças no comportamento dos felinos fora das suas áreas de residência. “Aqueles nascidos em cativeiro revelaram-se tendencialmente mais lentos a dispersarem-se depois de libertados, circulando mais devagar e ocupando áreas de residência transitórias menores”, revela Pedro Sarmento. Um indicador, diz, de comportamento mais cauteloso.
Do estudo resulta a proposta de métodos de translocação e melhoramento da conetividade entre populações. A mesma reflete a forma como iniciativas, que integrem reprodução em cativeiro e a reintrodução, podem ajudar a recuperar espécies ameaçadas. O recurso a linces selvagens translocados para reforçar a genética de populações já estabelecidas será o caminho a seguir dado que tais indivíduos tendem a ser mais competitivos e bem-sucedidos ao estabelecerem o seu próprio território.
Outras observações com potencial de replicação
Os autores do artigo argumentam ainda que os dados obtidos suportam a eficácia dos esquemas de gestão da população cativa. E sublinham a validade dos treinos pré-libertação dos quais os felinos são alvo.
O estudo confirma também a utilidade, replicável noutros projetos, de se fazer uma monitorização detalhada, por GPS, dos movimentos e da fixação dos felinos libertados. Com igual pertinência para outras iniciativas de reintrodução de felinos, serão os indicadores de utilização do espaço e movimento (por exemplo de território controlado e de dispersão) usados no projeto LIFE Lynxconnect. O tamanho, localização e distribuição de territórios de fixação desejada, revelaram-se úteis, em particular, para a gestão da conetividade entre populações e da sua genética.
Aceda ao artigo: Born to be wild: Captive-born and wild Iberian lynx (Lynx pardinus) revealspace-use similarities when reintroduced for species conservation concerns
O artigo foi publicado originalmente em ICNF.