Algumas centenas de produtores de leite reuniram-se hoje, em Ribeirão, distrito de Braga, para denunciarem os “preços insustentáveis” que o setor está a receber pela sua atividade, reivindicando uma subida da remuneração para cobrir os custos de produção.
A iniciativa, que juntou agricultores de todo o país, foi promovida pela Associação de Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), e contemplou uma ronda por várias superfícies comerciais da Trofa, distrito do Porto, onde os manifestantes, nos seus tratores e trajados de negro, depositaram caixas a simbolizarem caixões fúnebres, como alerta para a “morte do setor”.
“Desde o final do ano passado que a atividade de produção de leite se está a tornar insustentável. Estamos com margens negativas e não conseguimos produzir aos preços que nos estão a ser pagos”, começou por explicar Jorge Oliveira, presidente da Aprolep.
O dirigente lembrou que a média nacional paga aos agricultores por litro de leite ronda os 30 cêntimos, mas que, para as explorações serem sustentáveis, os produtores precisavam de receber, pelo menos, entre 35 a 36 cêntimos, apelando a um aumento do preço vendido na distribuição.
“Nos hipermercados há pacotes de leite a serem vendidos a 43 cêntimos. É algo insustentável. Apelamos que parem com as guerras comerciais e com as promoções porque isto vai destruir a promoção nacional. Se o litro de leite fosse vendido no mínimo a 50 cêntimos já era possível passar mais algum valor para nós”, acrescentou Jorge Oliveira.
A piorar a situação dos produtores está o aumento dos custos de produção, nomeadamente os valores das rações dos animais, que desde o início deste ano subiram cerca de 30%, lapidando as margens dos agricultores.
“Desde o último ano que uma exploração média paga mais dois mil euros por mês pelas rações dos animais, o que torna o negócio insustentável. Quando os mais velhos deixam a atividade, os mais novos não querem continuar ou então estão com muitas dificuldades e, em alguns casos, endividados”, alertou Carlos Neves, produtor e também dirigente da Aprolep.
Essas dificuldades são sentidas por Pedro Jacinto, de 38 anos, natural de Vila do Conde, que começou a atividade muito jovem e já não pondera mudar, mas vincou que “não recomendaria que os filhos tivessem a mesma profissão sem ponderarem os riscos”.
“Temos, e bem, de cumprir com todas as regras de bem-estar animal, mas essas exigências não nos são compensadas com uma atualização do preço que recebemos pelo leite produzido. É uma batalha entre as superfícies comerciais, que deviam estar do nosso lado para podermos ter uma vida melhor”, acrescentou o jovem agricultor.
Com a mensagem ‘preço justo para o leite’ estampada nas camisolas negras que vestiam, os produtores presentes nesta ação de protesto e sensibilização apelaram aos consumidores para que continuem a consumir o produto nacional e estejam disponíveis para pagar mais alguns cêntimos pelo leite.