O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, desafiou hoje o primeiro-ministro a ter “coragem” e “determinação” para defender, em Bruxelas, a agricultura portuguesa.
“Haja coragem, haja determinação, acabe com a conversa e avance com medidas concretas para defender a agricultura”, afirmou Paulo Raimundo.
O secretário-geral do PCP, que discursava no palco histórico do festival de Vilar de Mouros, em Caminha, Viana do Castelo, durante um passeio das mulheres CDU disse ter achado “piada” às declarações que Luís Montenegro fez recentemente sobre o assunto.
“Esteve no norte e fez uma peitaça forte e disse que é preciso defender a agricultura. Estamos de acordo. Mais vale tarde do que nunca. Agora é preciso que as opiniões e as proclamações tenham tradução prática. É preciso ver, como o povo diz, se a bolota bate com a perdigota”, referiu.
Paulo Raimundo disse que vai ver na segunda-feira, “as medidas de contestação do Governo à política agrícola comum”.
“É isso que afeta os agricultores”, alertou, adiantando que vai estar atento “para ver como é que o Governo vai reconstituir as direções regionais de agricultura que o Governo anterior mandou a baixo” e, “a enfrentar a ditadura da distribuição que aperta cada vez mais o preço aos produtores […] que aperta os direitos e os salários aos seus trabalhadores”.
“Não vale a pena grandes peitaças do primeiro-ministro. Valem a pena medidas concretas que resolvam os problemas. Se o primeiro-ministro está tão empenhado na defesa da produção, nomeadamente na produção leiteira, então, desta vez, tem de obrigar a distribuição, de uma vez por todas, a aumentar os preços à produção e não reduzir, como tem acontecido nos últimos tempos”, apontou.
Já para o setor vinícola, disse que se o primeiro-ministro está preocupado com a produção, na segunda-feira, em Bruxelas tem de “pôr fim à liberalização da vinha que está a arruinar os produtores que não têm onde colocar o vinho, porque não há mercado para o escoar”.
O secretário-geral do PCP disse não ter “ilusões sobre o Governo, sobre os seus objetivos, sobre o que pretende, sobre quem defende e de quem está dependente”.
“Cada um à sua maneira, o Chega, Iniciativa Liberal, CDS, com o seu estilo, com aquilo que lhes está destinado, uns com mais decibéis, outros mais refinados, cheios de coisas velhas vestidas de modernices. Depois temos um PS que alimenta todo este espetáculo e que, está cada vez mais longe da rutura urgente e necessária ao país”, frisou.
Para Paulo Raimundo, “o PS apresenta hoje medidas que há seis meses chumbava e rejeitava, é “um PS cheio de afirmações e divagações”.
“Há uma coisa que todos sabemos por experiência própria. A vida de cada um não anda para a frente com proclamações ou com intenções. A vida de cada um anda para frente com soluções, medidas concretas, com uma política que responda às necessidades da maioria do povo e não às necessidades de um punhado de grupos económicos”, reforçou.
No discurso de cerca de meia hora, o secretário-geral do PCP acusou o Governo de ter “uma máquina de propaganda forte e bem oleada” e de apresentar “pacotes e pacotes” de medidas nas diversas áreas, mas que “espremidas” traduzem-se “em mais oportunidades de negócios para os grandes grupos e económicos”.
Para as mulheres portuguesas pediu “medidas concretas” como o aumento de salários, o fim da flexibilidade dos horários de trabalho, o acesso a cuidados de saúde, com todos os serviços abertos, à justiça, com a eliminação das custas judiciais, habitação e a reformas “dignas” e, para as mulheres do mundo pediu “paz”.
“Vamos ouvindo falar da preocupação com a estabilidade política como se fosse um fim em si mesma. Para que serve se ela mantiver a instabilidade das nossas vidas. Vale zero”, alertou.