Cerca de 30 parcelas de montado em várias zonas do Alentejo vão funcionar como laboratório vivo para testar soluções que permitam preservar este ecossistema, numa iniciativa liderada pela Universidade de Évora (UÉ) e que integra 40 parceiros.
O denominado “Laboratório vivo para a regeneração do sistema agrossilvopastoril montado”, formalmente constituído hoje, é coordenado pela UÉ, através do MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento.
Em declarações à agência Lusa, Teresa Pinto Correia, do MED, revelou que se pretende que este laboratório vivo “seja um sistema de interação entre produtores, administração e investigadores para criar conhecimento aplicável na gestão da prática”.
“Podemos produzir muitos artigos sobre o montado, mas, se eles não chegarem aos produtores e não houver políticas públicas que apoiem uma gestão mais cuidada, o montado vai continuar a decair”, argumentou.
Aludindo às qualidades do ecossistema agrossilvopastoril, a investigadora do MED destacou que o montado consegue “adaptar-se às limitações biofísicas do território e fazer face às alterações climáticas”.
“Mas está em declínio”, advertiu, referindo que a quebra constante da área de montado está relacionada com a perda de rentabilidade e consequente diminuição de densidade de árvores.
Teresa Pinto Correia realçou que este laboratório vivo quer “contribuir com a produção de conhecimento para a manutenção deste sistema”, através da criação de “uma rede de parcelas em explorações agrícolas reais”.
“É uma rede que não é constituída por parcelas experimentais em centros de investigação, mas sim em explorações agrícolas, que têm que ter rendimento económico”, e que integra proprietários, empresas, investigadores, associações e administração, frisou.
A iniciativa vai permitir “juntar vários tipos de dados de longo prazo nestas parcelas, testar soluções e validar se a solução serve para todo o tipo de solos ou de áreas”.
Este laboratório vivo conta com a colaboração de 21 produtores, entre empresas e empresários em nome individual, que disponibilizam, durante 10 anos, um total de cerca de 30 parcelas, cada uma com uma área entre 0,5 e um hectare, em várias zonas do Alentejo.
A responsável disse que, para já, a iniciativa não tem financiamento e que os vários projetos de investigação sobre o montado que estão a ser desenvolvidos pelo MED e outras entidades parceiras vão ser agregados no laboratório vivo.
No caso do MED, precisou, estão em curso 10 projetos para os primeiros três anos do laboratório vivo, num financiamento europeu ou nacional global de cerca de três milhões de euros.
Porém, Teresa Pinto Correia salientou que os promotores da iniciativa participam numa candidatura da Universidade da Extremadura (Espanha) a fundos comunitários para a constituição de “um laboratório vivo com este perfil”.
“Se for aprovada, teremos financiamento direto para o laboratório vivo”, notou, observando que, se não tiver ‘luz verde’, a iniciativa terá “dinheiro dos vários projetos que estão a decorrer”.
Entre outras entidades, o laboratório vivo é constituído pela UÉ, através do MED, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), Universidade Nova de Lisboa e Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (CEBAL).