O valor médio de consumo de água por habitante, em Portugal, é de 186 litros por dia, mas a recomendação da ONU é de 110 litros. O país consome seis mil hectómetros cúbicos, “cerca de dois Alquevas por ano”, sendo que o consumo na agricultura representa mais de 70%.
De norte a sul, a chuva que caiu em março em Portugal fez subir o volume de água nas barragens nacionais e o país deixou de estar em “seca extrema”, com apenas 16% do território em “seca severa”.
O cenário parece agora mais animador, mas, na verdade, o ano hidrológico, iniciado em outubro, não arrancou nada bem. Nestas coisas da meteorologia, ninguém manda e os dois primeiros meses de 2022 fizeram temer o pior.
“Os meses de janeiro e fevereiro, isso é relevante, foram os mais secos de sempre, desde que há registos. Estamos a falar de 1931. Nunca antes tinha acontecido, o que se refletiu, naturalmente, no nível das águas nas nossas albufeiras. Níveis muito baixos e, em algumas, historicamente baixos”, diz à Renascença, vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado.
Um desses casos é a barragem do Alto Lindoso, situada no rio Lima, que atingiu, em novembro de 2021, 13,9% (54,3 metros cúbicos), o nível mais baixo das ultimas duas décadas, de acordo com os dados cedidos pela APA, através do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), tratados pela Data Science for Social Good Portugal e cedidos à Renascença.
A título de curiosidade, em 1999, o valor armazenado nesta albufeira era de 75,1% e, 23 anos depois, em 21 de março, segundo o mais recente boletim da APA, o valor é de 18%, como é possível conferir no respetivo gráfico.
O Alto Lindoso/Touvedo é uma das cinco barragens da EDP onde foi suspensa, por determinação do Governo, a produção hidroelétrica no inicio de fevereiro, situação que vai manter-se.
Vilar/Tabuaço, Cabril, Castelo de Bode e Alto Rabagão são as outras quatro. Esta última, também a Norte, atingiu o valor mais baixo em janeiro de 2021, 20% (114 metros cúbicos). A 21 de março deste ano, o valor armazenado era de 20,7%.
“Há uma questão que tem de ficar muito clara: apesar das medidas restritivas que tomámos no final de janeiro, o consumo humano está salvaguardado por dois anos. Neste período, não faltará água”, garante o vice-presidente da APA.
Deste “março, marçagão” que trouxe água “acima da média”, o responsável destaca ainda um outro dado interessante: “Curioso é que as chuvas de março tiveram particular intensidade a sul da bacia do Tejo, historicamente era ao contrário, mais norte e centro, mas, de facto, as chuvas, e isso é bom, caíram em zonas de seca estrutural, quer no Alentejo, quer no Algarve, o que é muito positivo.”
Abril deverá fazer jus ao ditado popular “abril, águas mil”, segundo as previsões que a APA dispõe, esperando-se que possam ser “recuperados os níveis das águas das barragens que ainda têm níveis muito baixos”, preservando a sua qualidade.
“Reforçámos a monitorização da qualidade das massas de água e esta mantém-se estável, boa, não há aqui qualquer alteração em todas as albufeiras […]