A oliveira é uma das árvores mais associadas à bacia mediterrânica, onde é cultivada há milénios. É uma espécie adaptada à seca e a solos pobres, que cresce lentamente ao longo de centenas e até milhares de anos. Fique a conhecê-la neste artigo em colaboração com António Cordeiro.
A oliveira faz parte da nossa tradição, cultura e paisagem, seja como árvore de cultivo ou ornamental. Está presente à mesa, na forma de azeitonas ou de azeite, faz parte da toponímia, é nome de família, está associada a tradições religiosas e é símbolo de paz, longevidade e glória.
De nome científico Olea europaea, pertence à família das Oleáceas. Desta família botânica fazem parte seis espécies nativas do continente e cinco das ilhas:
– É uma das poucas plantas cultivadas de origem mediterrânica. A sua difusão é antiga e as referências à espécie em Portugal também. O Código Visigótico, do ano de 560 d.C., estipulava multas para quem arrancasse oliveiras alheias (o povo visigodo ocupou a península ibérica entre o século V e VIII). Já antes, Estrabão, filósofo, historiador e geógrafo grego, que viveu no final do século I a.C., falava de olivais no Ribatejo. Existem dezenas de topónimos relacionados com a oliveira no nosso país – como Olivais ou Azeitão -, além de várias famílias Oliveira e até nomes próprios, como Olívia ou Olívio.
– Pode viver centenas ou até milhares de anos, mas como os seus troncos vão ficando ocos à medida que crescem, perdendo a parte mais antiga da madeira, não é possível datar estas árvores com precisão, nem pela contagem dos anéis de crescimento, nem pelo método de datação de carbono. Face a esta dificuldade, a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desenvolveu um método alternativo: uma estimativa baseada em medições das árvores. Embora não seja reconhecido pela restante comunidade científica, este método estimou a existência de oliveiras com mais de 2000 anos e a que poderá ser a árvore mais velha em Portugal.
– Tem o seu nome derivado do latim oliva, mas as origens da palavra vêm do grego elaia ou do grego micênico elaiva, que significam óleo.
– Os textos bíblicos dizem que a espécie sobreviveu ao dilúvio e ficou associada à paz, quando uma pomba voltou à arca de Noé com um ramo de oliveira no bico. Picasso usou esta mesma ideia na sua Pomba da Paz, em 1949. Além desta ligação ao Cristianismo, a oliveira e o azeite são também respeitados no Judaísmo e Islão, estando associados à luz, purificação e substância.
As flores, pequenas e brancas, agrupam-se em cachos ramificados, e florescem entre abril e junho. Esta é uma espécie monóica, ou seja, uma mesma árvore tem flores de ambos os sexos. As flores podem ser hermafroditas ou ter apenas um dos sexos:
– As flores hermafroditas são chamadas de perfeitas, pois são elas que, depois de polinizadas dão origem ao fruto. O pólen que permite a fertilização é, na maioria dos casos, transportado pelo vento (menos frequentemente por insetos ou aves), a partir de outras oliveiras, embora a autopolinização possa ocorrer;
– As masculinas são chamadas de flores imperfeitas, por não serem capazes de gerar fruto devido a uma falha de desenvolvimento (ou não possuem ovário, ou este órgão é rudimentar e não funcional).
O fruto é uma drupa, que bem conhecemos – a azeitona – que surge a partir de junho e amadurece em outubro-novembro.
Oliveira é uma espécie rústica, bem-adaptada ao clima mediterrânico
A oliveira é uma espécie adaptada ao clima da costa do Mar Mediterrânico, até aos 600 metros de altitude, onde os verões são quentes e secos, e os invernos frios e chuvosos. Como várias espécies adaptadas a esta região e clima, é tolerante à secura – considerada uma espécie termófila – e pode crescer em todos os tipos de solos.
A oliveira apresenta características morfológicas, anatómicas, fisiológicas e bioquímicas que a ajudam a reduzir a perda de água e a tolerar condições de secura e até alguma desidratação:
– As folhas estão “desenhadas” para minimizar as perdas de água por transpiração e para receber o máximo de energia sem aumentos excessivos de temperatura (que levariam ao aumentam a evaporação);
– As raízes (sistema radicular) são extensas e crescem mais ou menos paralelas à superfície do solo (e não tanto em profundidade), o que lhes possibilita absorver a água das chuvas leves e intermitentes, típicas do clima mediterrânico;
– Quando se encontram em condições de secura moderada, as oliveiras param o seu crescimento, mas não a atividade fotossintética, o que lhes permite acumular reservas e aumentar as suas raízes (sistema radicular).
A capacidade da oliveira de prosperar e ter produções aceitáveis, mesmo em condições de secura e solos pobres, foi uma das principais razões para a expansão da sua cultura.
A utilização e exploração do zambujeiro (silvestre) está documentada no Próximo Oriente e até à Espanha desde o período Neolítico, que teve início há cerca de 10 mil anos. Esta oliveira silvestre ter-se-á disseminado naturalmente, provavelmente levada por aves migratórias, e cresceu nos locais onde encontrou melhores condições para prosperar. Mais tarde, ter-se-á cruzado com variedades cultivadas para a produção de azeitona e azeite.
Embora não haja certezas sobre o local de origem da espécie, é normalmente aceite que a domesticação da oliveira tenha começado no Médio Oriente, há cerca de seis mil anos. Ainda assim, encontram-se evidências do seu cultivo noutros locais do Mediterrâneo, mais ou menos pela mesma época.
Um trabalho recente revelou que a domesticação desta espécie terá tido origem no Mediterrâneo oriental, na região entre a Síria e a Turquia. De lá, esta cultura espalhou-se para o Chipre e seguiu rumo a oeste, para a Turquia, Grécia, Itália e para o resto do Mediterrâneo, paralelamente à expansão das civilizações e do comércio nesta parte do mundo.
Esta expansão e domesticação foi um processo longo e contínuo, que envolveu cruzamentos genéticos entre as árvores cultivadas e as variantes silvestres de zambujeiros que existiam em vários locais (inclusive em Portugal), o que pode explicar as diferentes origens de cultivo um pouco por todo o Mediterrâneo. Esta história milenar leva a que a espécie seja considerada nativa por praticamente todos os países da Bacia Mediterrânica.
Ao longo do tempo, a domesticação prosseguiu por grande parte do mundo e hoje podem ser encontradas oliveiras em locais tão distantes como a Austrália, a América do Norte e do Sul, a África do Sul e o Havai.
Pensa-se que terão sido os Fenícios a expandir a cultura da oliveira pelo Mediterrâneo Ocidental, Norte de África e Sul de Espanha. A par com os Gregos, terá sido este povo a trazer a oliveira até Portugal, tendo depois os Romanos impulsionado a sua cultura e a produção de azeite.
Com uma história tão longa pelo Mediterrâneo, a cultura da oliveira e a produção de azeite fazem parte da história e património cultural e gastronómico dos povos da região. Não é, por isso, de estranhar que Itália, Espanha, França, Grécia e Portugal sejam dos países com maior área de olival no mundo e deem à Europa o título de maior produtor global de azeite.
Em 2022, existiam na União Europeia (EU-27) mais de 5 mil milhões de hectares de oliveiras, de acordo com os dados do Eurostat (Crop production in national humidity – olives), e cerca de 95% das oliveiras estavam localizadas na região mediterrânica. Espanha liderava, com 2,6 mil milhões de hectares (52% do olival da EU-27) e Portugal ocupava a quarta posição, com 380 mil hectares (7,5%), depois de Itália, com 1,1 mil milhões de hectares (21,5%), e Grécia, com 905 mil hectares (18%). Fora da UE, era a Turquia que se destacava em área de olival, com cerca de 889 mil hectares (em 2021).
A maior parte deste olival é plantado com o objetivo de obter azeite (apenas cerca de 6,1% da área total se destina à à azeitona de mesa), o que destaca a Europa como a produtora de dois terços do azeite mundial.
Sabia que a oliveira…
– É uma das poucas plantas cultivadas de origem mediterrânica. A sua difusão é antiga e as referências à espécie em Portugal também. O Código Visigótico, do ano de 560 d.C., estipulava multas para quem arrancasse oliveiras alheias (o povo visigodo ocupou a península ibérica entre o século V e VIII). Já antes, Estrabão, filósofo, historiador e geógrafo grego, que viveu no final do século I a.C., falava de olivais no Ribatejo. Existem dezenas de topónimos relacionados com a oliveira no nosso país – como Olivais ou Azeitão -, além de várias famílias Oliveira e até nomes próprios, como Olívia ou Olívio.
– Pode viver centenas ou até milhares de anos, mas como os seus troncos vão ficando ocos à medida que crescem, perdendo a parte mais antiga da madeira, não é possível datar estas árvores com precisão, nem pela contagem dos anéis de crescimento, nem pelo método de datação de carbono. Face a esta dificuldade, a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desenvolveu um método alternativo: uma estimativa baseada em medições das árvores. Embora não seja reconhecido pela restante comunidade científica, este método estimou a existência de oliveiras com mais de 2000 anos e a que poderá ser a árvore mais velha em Portugal.
– Tem o seu nome derivado do latim oliva, mas as origens da palavra vêm do grego elaia ou do grego micênico elaiva, que significam óleo.
– Os textos bíblicos dizem que a espécie sobreviveu ao dilúvio e ficou associada à paz, quando uma pomba voltou à arca de Noé com um ramo de oliveira no bico. Picasso usou esta mesma ideia na sua Pomba da Paz, em 1949. Além desta ligação ao Cristianismo, a oliveira e o azeite são também respeitados no Judaísmo e Islão, estando associados à luz, purificação e substância.
Sabia que o azeite…
– A palavra terá origem na expressão árabe az zayt – sumo de azeitona.
– Faz parte da Dieta Mediterrânica, considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, em 2013.
– Na antiguidade, era usado para iluminação, mas também para muitos outros fins: os gregos utilizavam-no como balsamo depois do banho e para manter os músculos flexíveis; os cremes de beleza eram feitos com pó de argila amassado com azeite; e uma mistura de azeite, gema de ovo, cerveja e sumo de limão era massajada no couro cabeludo para manter as cabeleiras fortes. O azeite também era o principal combustível usado nas piras funerárias, sendo depois derramado sobre as cinzas, para as perfumar.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.