Existem tipos de habitats que são relíquias de tempos geológicos anteriores ao predomínio da vegetação mediterrânica adaptada ao fogo.
Existe uma ideia corrente nos meios técnicos ligados à gestão do fogo: a de que, após um incêndio, e passado tempo suficiente, os ecossistemas acabam por recuperar. Sendo as plantas os organismos largamente dominantes na biosfera, a sua recuperação espontânea é determinante para a reposição gradual da estrutura, composição e funções dos ecossistemas. Deste modo, a sobrevivência ao fogo de sementes e estruturas subterrâneas, como toiças e rizomas, garantiria o restabelecimento dos ecossistemas destruídos pelos incêndios. Este processo espontâneo de restauro, a sucessão ecológica, é universal e central em ecologia.
É verdade que uma parte significativa dos habitats naturais em Portugal são compostos de vegetação mediterrânica, isto é, comunidades de plantas nativas, que evoluíram com adaptações à aridez prolongada no Verão e também, muitas delas, com adaptações ao fogo. São exemplos destas adaptações a capacidade de rebentar de toiça ou de raiz, ter sementes resistentes ao fogo ou até ter uma “casca” espessa com cortiça, que é o caso do sobreiro.
Algumas espécies, mais do que tolerantes, são promovidas pelo fogo e ganham vantagens competitivas na sucessão ecológica pós-fogo. Vem daqui a ideia generalizada de que, nos ecossistemas mediterrânicos, o fogo é um fator natural, e até por vezes necessário e que sempre os acompanhou. Assim, o feito destrutivo seria temporário e a recuperação uma questão de tempo. Esta generalização é simplista e abusiva […]