O restauro da natureza é a melhor forma de prevenir os incêndios na Península Ibérica, considera a organização ambientalista internacional “World Wide Fund for Nature” (WWF), num relatório divulgado hoje.
Da responsabilidade da WWF Espanha e da ANP/WWF, associação que em Portugal trabalha com a organização internacional, o relatório, “Restaurar para Prevenir”, analisa a evolução dos incêndios na Península Ibérica e o papel que tem nos grandes incêndios o abandono do território.
As duas organizações notam que o restauro ecológico reduz o risco de incêndio, promove a conservação da biodiversidade, a prestação de serviços dos ecossistemas e gera riqueza no meio rural.
Ao promover paisagens em mosaico e recuperar áreas degradadas e desertificadas, “tornamos as florestas mais resilientes e melhoramos a qualidade de vida das pessoas que residem em ambientes rurais e urbanos”, dizem os responsáveis pelo documento.
Citado num comunicado de divulgação do relatório, Vasco da Silva, coordenador de florestas da ANP|WWF, salientou que o restauro ecológico é “mais do que plantar árvores” e que ele “melhora o funcionamento das florestas e os serviços que prestam, preparando a paisagem para os impactos climáticos futuros”.
Ainda que, diz a ANP/WWF no relatório, o ano passado tenha sido dos melhores da última década, com menos incêndios e menos área ardida, há uma “tendência preocupante” de os incêndios serem maiores e mais agressivos a nível mundial, que também se verifica em Portugal. Apesar de o número de incêndios diminuir a área ardida não reflete essa proporcionalmente essa relação.
“Neste relatório apresentamos dados da última década e de facto o número de incêndios tem vindo a diminuir, em cerca de 50%, mas essa redução não reflete a área ardida, há menos incêndios mas são mais intensos e arde mais área”, disse Vasco da Silva em declarações à Agência Lusa.
Esses grandes incêndios são muitas vezes atribuídos às alterações climáticas mas Vasco da Silva aos fatores meteorológicos, como a seca extrema ou o vento, junta a “grande quantidade de vegetação que não é gerida, e que em muitas áreas está ao abandono”.
E com esta combinação de clima e material vegetal havendo uma ignição criam-se estes incêndios quase imparáveis, avisa.
A solução? Vasco da Silva responde prevenção. “Em Portugal, a aposta na prevenção dos incêndios começou a ser uma realidade desde 2022, quando o valor do investimento em prevenção (60%) começou a superar o montante gasto com o combate (40%)”.
Mas, diz o responsável, é preciso fazer mais. São precisas, por exemplo, medidas coercivas para que a atualização do cadastro seja eficiente e uma realidade, como são precisas regras para restaurar a paisagem e gerir a vegetação.
Incêndios maiores e mais destrutivos, insiste Vasco da Silva, devem-se “à inação em relação ao meio rural”, ao “forte despovoamento e envelhecimento” rural e à ausência de “políticas sérias de gestão do território”, que levaram a paisagens rurais abandonadas, inflamáveis e suscetíveis de incêndios severos.
Reduz-se o risco desses incêndios com uma intervenção na paisagem que combine recuperação de áreas produtivas, prevenção de incêndios, conservação da biodiversidade e combate às alterações climáticas.
Porque a política atual é insuficiente para prevenir incêndios extremos a ANP|WWF sugere a criação rápida de Plano Nacional de Restauro para identificar e restaurar zonas prioritárias, com apoio financeiro adequado.
“O governo deve promover medidas para reduzir a sinistralidade, investigar causas de incêndios, melhorar programas de sensibilização e educação ambiental, e aplicar sanções eficazes para dissuadir crimes ambientais”, diz Vasco da Silva.
E a ANP/WWF dá um exemplo de boas práticas, o projeto iniciado em 2019 na Serra do Caldeirão, definindo objetivos de conservação e garantindo resiliência e sustentabilidade. Construiu-se uma paisagem sustentável, valorizou-se o ciclo da água, protegeu-se a floresta contra incêndios. E envolveu-se a população.
A WWF é uma das maiores organizações ambientalistas do mundo, com mais de cinco milhões de apoiantes e presença em mais de 100 países.