A Associação Guardiões da Serra da Estrela está a apoiar pastores que tiveram prejuízos devido ao incêndio que atingiu o Parque Natural com alimentação para as ovelhas e na reposição do abastecimento de água nas suas habitações.
A associação, que opera com base em donativos e voluntários, respondeu às necessidades urgentes dos pastores e distribuiu até ao momento cerca de 150 toneladas de alimentação (palha, feno e ração) a 110 rebanhos.
Segundo Manuel Franco, da Guardiões da Serra da Estrela, a associação começou a ajudar os pastores “rapidamente” após o incêndio, o que considerou “relevante”.
“Conseguimos, desde logo, começar a distribuir alimentação em quantidade. Quantidade essa que, apesar de à data de hoje já superar as 150 toneladas de alimentação distribuída, não é suficiente, como é óbvio. Falamos de pastores que, alguns deles, têm os seus pastos afetados por um período que pode ir aos quatro, cinco ou até seis meses, se o ano de seca continuar”, disse à agência Lusa, nos Casais de Folgosinho, Gouveia, onde estão seis dos muitos pastores da região que estão a ser apoiados.
O responsável espera que este mês, como foi prometido pelo Governo, comecem a chegar os primeiros apoios aos pastores.
Lembrou também que “a primeira fase do apoio de emergência alimentar está prometida começar a chegar esta semana”.
No entanto, por saber das dificuldades de processos desta natureza, a associação mantém a sua ação no terreno e os seus elementos continuam “disponíveis para suplantar as necessidades” que não tenham sido cobertas pelos apoios ou pelas instituições.
Para além do apoio direto a 110 rebanhos, a Guardiões da Serra da Estrela também tem apoiado a alimentação de animais através das Juntas de Freguesia e repôs as canalizações de água que servem as habitações dos pastores nas 19 freguesias dos seis concelhos da serra da Estrela afetadas pelo fogo.
Em Casais de Folgosinho, Gouveia, o trabalho de reposição dos tubos da água foi feito por voluntários e “foi muito partilhado e feito em espírito de comunidade e de comunhão”, lembrou Manuel Franco, junto da habitação do pastor Hermínio, que alertava para o fraco caudal de água que corria numa torneira.
“Temos de ver isso. O importante é que a água está a correr”, sossegou o responsável.
Hermínio Carvalhinho, de 51 anos, pastor desde os nove anos, contou à Lusa que não estava nos Casais de Folgosinho quando o incêndio atingiu o local, porque andava com as ovelhas “no outro lado da serra”.
Logo que deu pela presença do fogo, que pela primeira vez lhe “chegou à porta”, dirigiu-se para a quinta e lembrou que o momento “foi complicado”.
As chamas destruíram canos da água e pastos, ficando sem alimentação para as mais de 200 ovelhas e com preocupações acrescidas porque algumas estão “próximas a parir”.
“Um senhor, o barbas [Manuel Franco, da Guardiões da Serra da Estrela], já cá veio trazer mantimento para elas [as ovelhas], e é o que andam a comer. É palha, feno e ração. É o que andam a comer. Mato não há, ficou tudo destruído. Só estão a comer feno e palha. Erva não há”, relatou.
Hermínio Carvalhinho reconheceu que, se não fosse o apoio recebido através da associação, “não era fácil” alimentar os animais.
Mesmo assim, o pastor não alimenta os animais como devia: “Elas comiam mais um bocadito, mas não há alimento, e têm que comer um fardo [de palha ou feno] por dia ou dois”.
Quanto à água, se não tivesse sido a ação da associação Guardiões da Estrela, “nem para tomar banho” haveria.
“Ainda há muita coisa de urgência para ajudar. Muitos destes pastores perderam palheiros, que precisam de ser recuperados, e precisam de apoio nas sementeiras produtivas e de estabilização de encostas”, finalizou Manuel Franco, da referida associação.
A serra da Estrela foi afetada por um incêndio que deflagrou no dia 06 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e que foi dado como dominado no dia 13.
O fogo sofreu uma reativação no dia 15 e foi considerado novamente dominado no dia 17 do mesmo mês, à noite.
As chamas estenderam-se ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingiram ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.
No dia 25, o Governo aprovou a declaração de situação de calamidade para o PNSE, afetado desde julho por fogos, conforme pedido pelos autarcas dos territórios atingidos.
A situação de calamidade foi já publicada em Diário da República e vai vigorar pelo período de um ano, para “efeitos de reposição da normalidade na respetiva área geográfica”.