Cerca de 800 hectares de floresta do concelho de Mortágua que arderam no incêndio de outubro de 2017 estão a ser recuperados, no âmbito de um projeto-piloto desenvolvido e financiado pela CELPA, que beneficiará 1.200 proprietários.
“Identificámos uma área de cerca de 800 hectares que não foi alvo de qualquer intervenção ao longo destes anos e que está abandonada e com uma carga de combustível impressionante”, disse à agência Lusa o diretor geral da CELPA (Associação da Indústria Papeleira), Francisco Gomes da Silva, considerando que, caso se registasse um novo incêndio naquela área, seria “pior do que o de 2017”.
O projeto-piloto arrancou em novembro do ano passado, em parceria com a Câmara Municipal de Mortágua, e deverá ficar concluído até junho deste ano, com ações que vão desde roçar o mato até à seleção de varas, de forma a recuperar o potencial produtivo daquelas áreas de floresta.
“Trata-se de propriedade privada e temos o apoio da câmara municipal no contacto com os proprietários, para que eles nos autorizem a fazer os trabalhos. Estamos a transformar uma zona cujo destino seria voltar a arder numa zona produtiva”, frisou.
O objetivo da CELPA é demonstrar ao Governo “que é possível fazer” no território que foi afetado pelos incêndios um trabalho como o que está a ser desenvolvido em Mortágua.
“Tem é que haver vontade. A iniciativa raramente pode partir do proprietário, porque estamos sempre a falar de proprietários de muito pequena dimensão, que se organizam de forma difícil”, considerou Francisco Gomes da Silva, acrescentando que “tem que haver uma entidade que assuma e lidere o processo e algum cofinanciamento”.
O responsável da CELPA está convencido de que Portugal não está condenado “a ter a floresta abandonada só porque no passado ardeu e os proprietários não têm capacidade financeira” para intervir nos seus terrenos.
“Há forma de ultrapassar isto”, frisou, lembrando que existem apoios “no âmbito do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), dos fundos de desenvolvimento rural, que podem apoiar o financiamento deste tipo de ações”.
A expectativa é chegar ao próximo verão com os cerca de 800 hectares de Mortágua “totalmente recuperados e prontos para continuarem a produzir as riquezas que a floresta dá do ponto de vista económico e ambiental”.
“Neste momento, devemos ter concluídos acima dos 100 hectares. Estamos a avançar em mais áreas. Quando chegarmos ao verão teremos que parar com estas operações, por causa do risco de incêndio”, explicou o diretor geral da CELPA.
O que eventualmente não ficar feito até ao verão, “será concluído no princípio do outono”, acrescentou.
Francisco Gomes da Silva sublinhou que a CELPA lança projetos piloto como este de Mortágua “para demonstrar que é possível” concretizar as ações.
“Depois tentamos entregar a ideia a quem possa operacionalizá-la em escala. Temos à disposição no país fundos muito significativos e queremos chamar a atenção de que a floresta é um destino interessante para eles”, realçou.