O projeto “Renature Leiria”, do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), vai plantar 650 mil árvores até 2025 na Mata Nacional de Leiria, onde os incêndios destruíram 86% da sua área, foi hoje anunciado.
“Vamos intervir à volta dos 700 hectares e iremos plantar cerca de 650 mil árvores”, afirmou à agência Lusa Miguel Jerónimo, membro da comissão executiva do GEOTA e coordenador deste projeto e do “Renature Monchique”, no Algarve, este iniciado em 2019 na sequência dos incêndios no ano anterior.
Segundo Miguel Jerónimo, os trabalhos no terreno na Mata Nacional de Leiria iniciaram-se em janeiro, sendo que no sábado é o lançamento simbólico da iniciativa de reflorestação, com a presença de cerca de 20 pessoas, que “irá coincidir com o fim da primeira época de plantação”.
O projeto decorre desde este ano até abril de 2025, adiantou, explicando que há objetivos anuais.
“Este ano, como era o arranque e como temos menos tempo, as árvores plantadas foram 50 mil. (…) A partir de outubro, e sempre numa lógica de outubro a março, até ao ano de 2025, estaremos a plantar cerca de 200 mil árvores a cada ano, fazendo depois o objetivo final das 650 mil, a atingir em abril de 2025”, disse.
O coordenador explicou que os trabalhos são executados por uma equipa profissional, numa ação em parceria com a associação norte-americana One Tree Planted e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
“No âmbito destes projetos, plantamos só floresta autóctone. Portanto, isso é uma das condições que nós estabelecemos no projeto, quer em Monchique, quer em Leiria”, assegurou o membro desta organização não-governamental de ambiente, salientando que “todas as plantações são adaptadas às condições biofísicas do local”.
Miguel Jerónimo explicou que no caso da Mata Nacional de Leiria, também conhecida como Pinhal de Leiria ou Pinhal do Rei, trata-se de “um ambiente dunar”.
“A árvore mais comum que iremos plantar será o pinheiro-bravo, mas vamos introduzir algum ‘mix’, aquilo que também já está previsto agora no novo Plano de Gestão da Mata Nacional de Leiria”, como o pinheiro-manso, o medronheiro ou o sobreiro, referiu.
De acordo com o coordenador, “além do impacto ecológico que este projeto possa ter”, o GEOTA tenta “sempre adquirir todos os materiais localmente, contactar as pessoas localmente”, para que o impacto “também seja social e económico”.
O coordenador destacou ainda o papel da Mata Nacional de Leiria na História de Portugal, frisando ser “uma importante área de conservação para a biodiversidade, de lazer, de usufruto, de produção florestal”.
“O que queremos fazer (…) é contribuir para a recuperação desta área tão emblemática e, obviamente, potenciar tudo aquilo que são os serviços dos ecossistemas que esta área é responsável por produzir”, declarou, realçando que “são importantíssimas na mitigação das alterações climáticas”.
A este propósito esclareceu que se está a falar “de uma zona que é adjacente ao oceano e, portanto, tem aqui uma data de funções de proteção muito importantes”.
Miguel Jerónimo acrescentou que o objetivo é “multiplicar estas metodologias, encontrar mais financiadores”, esperando que “o Governo um dia possa olhar para estes projetos e também querer financiar, porque até agora estes dois projetos” que anualmente “totalizam um investimento de meio milhão [de euros] em floresta autóctone são 100% financiamentos privados”.
A Mata Nacional de Leiria, que ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande, tem 11.021 hectares. Nos incêndios de outubro de 2017, 86% da sua área ardeu, de acordo com o ‘site’ https://mnleiria.icnf.pt/. Já a tempestade Leslie, um ano depois, afetou 1.137 hectares desta mata.
O Pinhal de Leiria é propriedade do Estado. De acordo com informação do mesmo ‘site’, “a origem deste pinhal remonta a datas anteriores ao reinado de D. Dinis (1279-1325), mas foi com este monarca que foram feitas as grandes sementeiras com pinheiro-bravo, que o considerou como Mata da Coroa, estabelecendo as primeiras regras com vista à sua administração, dando-lhe, para este efeito, um primeiro regimento”.