Os fogos de 2019-2020 na Austrália, que devastaram 10 milhões de hectares de terra, tiveram também um impacto na camada superior da atmosfera, semelhante ao dos maiores vulcões e causando potenciais alterações climatéricas duradouras, segundo um novo estudo.
Recorrendo a dados de duas missões de satélites, cientistas do Instituto de Investigação Biológica de Israel e do Instituto de Ciência Weizmann, identificaram sobre “níveis recorde de profundidade ótica de aerossol resultantes do fumo dos incêndios florestais na Austrália, que foi injetado na estratosfera”.
A estratosfera é a camada superior da atmosfera, pelo que o fumo dos incêndios australianos, que se prolongaram de junho de 2019 a março de 2020, se terá elevado a mais de 35 quilómetros de altitude.
Uma vez que não se formam nuvens de chuva no topo da estratosfera, capazes de expelir os poluentes, estes podem ali permanecer durante meses ou anos, refere o estudo publicado na revista Science.
Não sendo frequente em incêndios, a elevação de poluentes a elevada altitude é habitual nas erupções vulcânicas, mas no caso dos fogos de 2019-2020 na Austrália os níveis de aerossóis sobre a região subiram 50% em relação à media dos últimos 17 anos e ultrapassaram mesmo os da erupção do vulcão do Monte Pinatubo, em 1991, considerada a segunda maior do século XX.
A duração da época de incêndios na Austrália tem vindo a aumentar, tal como a intensidade destes, e a de 2019-2020 foi particularmente devastadora devido às elevadas temperaturas e à maior seca das últimas décadas.
Segundo o estudo, o impacto dos fogos australianos já está a ser sentido, com o fumo na atmosfera a servir de filtro à energia do sol, que regista agora uma diminuição ao nível do mar medida em 1 watt por metro quadrado, levando a uma descida das temperaturas na região.
Absorvendo a luz do sol, o fumo poderá também estar a aquecer a estratosfera e a alterar o seu equilíbrio, com efeitos imprevisíveis.