O Presidente angolano disse hoje que a fome e a miséria não se combatem com decretos, mas com o trabalho no campo, enaltecendo a “lição prática” dos camponeses do Bié, que apresentam elevados níveis de produção.
“Desta visita aqui à província do Bié [centro de Angola] aprendemos uma grande lição e aprendemos, sobretudo, das famílias humildes do campo, que, com o seu trabalho, com a sua produção, estão a nos ensinar como combater a fome, a miséria, trabalhando”, disse hoje João Lourenço, no Bié.
Para o Presidente angolano, que falava aos jornalistas no final da sua visita de dois dias àquela província, os camponeses dos nove municípios da província do Bié estão a dar “uma grande lição” de que, para se ter comida à mesa, é necessário trabalhar o campo.
João Lourenço considerou que, enquanto muitos intelectuais, políticos, “alguns mal-intencionados” propalam a ideia de que para se ter comida à mesa e para se baixar o preço dos produtos basta um decreto do Presidente da República ou basta aumentar o volume de importação desses mesmos produtos, os camponeses estão a “dar uma grande lição, dizendo que o caminho é trabalhar o campo”.
“Este é o caminho, sejamos humildes para aprendermos com os camponeses esta lição prática que nos estão a dar”, declarou, realçando que a feira agrícola que visitou na quarta-feira, seu primeiro dia de trabalho no Bié, mostrou que a região “está a produzir um pouco de tudo”.
Um milhão e trezentas mil pessoas em Angola, 4% da população, enfrentaram níveis elevados de insegurança alimentar aguda em 2023 e a situação deverá piorar em 2024, segundo o Relatório Mundial sobre a Crise Alimentar, divulgado em abril passado.
Atores da sociedade civil e partidos políticos na oposição angolana criticam de forma reiterada os “elevados índices da fome e pobreza” no país, que dizem ter-se agravado com elevados preços dos produtos da cesta básica.
Após a sua chegada ao Bié, João Lourenço visitou uma feira agrícola na cidade do Cuito e depois reuniu-se com o governo provincial, onde foi inteirado sobre a situação socioeconómica da província.
Hoje, no seu segundo e último dia no Bié, deslocou-se ao município do Chinguar, onde visitou uma fazenda e protagonizou o arranque da campanha de colheita do trigo e depois visitou uma indústria de transformação de trigo e o Centro de Produção de Mudas Florestais, afeto ao Instituto de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas, no município de Catabola.
Na hora do balanço, enalteceu o trabalho desenvolvido pelo empresário agrícola Alfeu Vinevala, responsável pela produção de trigo naquela província, referindo que este está igualmente a dar oportunidades às comunidades circunvizinhas de produzirem pequenas parcelas de trigo.
“Ele distribui as sementes e compra dos camponeses a sua produção, portanto isso vai fazer com que os camponeses daquela comunidade de ano para ano aumentem as suas áreas de produção de trigo, porque sabem que tudo que forem produzir tem mercado”, apontou João Lourenço.
O chefe de Estado angolano assegurou também uma aposta contínua na construção e manutenção das infraestruturas rodoviárias, quer as asfaltadas ou de terra batida, para o escoamento da produção agrícola, considerando legítimas as queixas dos camponeses sobre as vias de acesso.
Garantiu ainda que está “para breve” a conclusão da construção da fábrica de fertilizantes na cidade do Soyo, província do Zaire, norte do país, a qual deverá cobrir na totalidade as necessidades do país ou pelo menos suprir uma parcela muito grande de importações de fertilizantes.