De entre os vários tipos de florestas no mundo, a floresta boreal é uma das mais vastas. Situada em torno do Oceano Ártico e do Polo Norte, podemos encontrá-la em países como Noruega, Finlândia, Suécia, Rússia, norte da China e do Japão, Canadá e em várias áreas no norte dos Estados Unidos, incluindo o Estado do Alasca.
A floresta boreal, também conhecida como floresta de taiga ou floresta de coníferas, encontra-se em regiões de clima frio a temperado-frio, principalmente na região subártica – em latitudes entre os paralelos 50º e os 65° Norte (abaixo do Círculo Polar Ártico).
Com uma extensão próxima dos 14 milhões de km², a floresta boreal cobre cerca de 10% dos ecossistemas terrestres do planeta. Faz parte de um dos maiores biomas terrestres e representa cerca de 27% da área florestal global (as florestas tropicais representam 45%, as temperadas 16% e as subtropicais 11%).
Independente do local, todas as áreas de floresta boreal são caracterizadas por invernos longos e frios, com poucas horas de luz e temperaturas que estão com frequência muito abaixo de zero (as médias rondam os -20 ºC e as mínimas os -50 ºC), mantendo-se assim por mais de metade do ano. Os verões são curtos e frios, com dois a quatro meses de temperaturas mais amenas (cerca de 10º C, podendo nalguns locais chegar a máximos de 26º C), que permitem o crescimento da vegetação.
A precipitação é baixa a moderada e cai especialmente no verão, quando as temperaturas não implicam congelamento. Ainda assim, como a neblina persiste graças às temperaturas baixas e à reduzida evaporação, costuma manter-se humidade suficiente para apoiar o crescimento vegetal.
O solo das florestas boreais é frequentemente ácido, pobre e os nutrientes essenciais ao crescimento das plantas concentram-se na camada superficial. Curiosamente, quando as temperaturas começam a descer, no outono, os flocos de neve que se vão acumulado à superfície acabam por funcionar como uma faixa isolante, que permite manter esta camada do solo com temperaturas acima do ponto de congelação, bastante mais elevadas do que a temperatura do ar.
As florestas boreais têm geralmente uma baixa diversidade de espécies comparativamente a outros ecossistemas florestais.
As espécies de árvores predominantes são as coníferas: altas e esguias, lembrando uma pirâmide, com folhas em forma de agulha e pinhas que “escondem” a semente. Estas espécies estão bem-adaptadas às condições climáticas (e de solos) desafiadoras do Norte do planeta e são maioritariamente árvores de folha perene ou persistente (sempre-verdes).
Entre as espécies mais comuns estão as píceas ou espruces (Picea spp.) também chamados de abetos, os pinheiros (Pinus spp.) e os larícios (Larix spp.). Alguns exemplos são o abeto-siberiano (Picea obovata), o cedro-branco (Thuja occidentalis), o larício-americano (Larix laricina) e o abeto-branco ou pinheiro-do-Canadá (Picea glauca) – uma espécie muito apreciada como árvore de Natal.
Embora possam existir algumas espécies de folha caduca (caducifólias, cujas folhas começam a cair no outono), como as bétulas (Betula spp.) e os choupos (Populus spp.), elas são características, especialmente, dos estágios iniciais da sucessão florestal, ou seja, nas fases iniciais de formação da floresta.
A maioria destas árvores típicas da floresta boreal desenvolveram mecanismos de adaptação que lhes permitem viver em condições extremas, sobretudo no inverno. Entre elas salientam-se:
Folhas em forma de agulha (em vez de folhas largas) – a superfície menor e resistente permite reduzir a perda de água nos meses de inverno (sob gelo e neve), em que a absorção da água pelas raízes é mais difícil. Nestas regiões, as agulhas das coníferas possuem produzem elevadas quantidades de resinas, óleos e outros químicos que, além de reduzirem a perda de água, as protegem do congelamento. Quando caem (empurradas por novas folhas), as substâncias presentes nas agulhas “contaminam” o solo, o que contribui para o tornar mais ácido, inibindo o crescimento de outras plantas que poderiam concorrer pelos mesmos recursos.
Raízes pouco profundas – o sistema de raízes de grande parte das espécies de árvores é pouco profundo e consegue tirar partido da fina camada de solo que não se encontra permanentemente congelada, mantendo-se numa área superficial onde se concentram os principais nutrientes do solo.
Redução da atividade (metabolismo) no inverno – diminuem a transpiração e conservam a energia. Permanecem, assim, em dormência durante os meses de clima mais rigoroso e o seu crescimento é retomado apenas nos meses de verão.
Mesmo com estas estratégias de adaptação, a vegetação é mais densa nas zonas sul desta faixa boreal e mais esparsa a norte (mais perto da costa ártica), onde a floresta dá lugar a zonas com árvores mais espaçadas e vegetação rasteira, que formam uma nova paisagem e bioma – a tundra (neste caso, a tundra ártica).
Apesar de serem ecossistemas com clima extremo e onde predominam as espécies arbóreas coníferas, as florestas boreais abrigam mais variedade de vida selvagem do que se poderia supor, incluindo bisontes (o maior mamífero dos EUA), alces, renas, ursos, lobos, raposas, castores, rãs e aves diversas, muitas das quais migratórias e aquáticas.
Parte destes animais, tal como as árvores, reduzem o seu metabolismo durante os meses mais rigorosos de inverno: os ursos são um exemplo (embora nem todos hibernem), mas várias outras espécies mantêm-se numa longa dormência e há vários insetos que chegam mesmo a congelar, permanecendo por vários meses num estado de criopreservação natural.
As florestas boreais são, no seu conjunto, os ecossistemas com maior extensão de zonas húmidas no mundo e têm um papel importante no equilíbrio ecológico global, agindo como importantes reservatórios de carbono. Estima-se que guardem cerca de um terço do carbono contido nas áreas terrestres do planeta. Além do seu papel ecológico, as áreas de floresta boreal têm um importante papel socioeconómico: cerca de um terço da madeira usada a nível global tem origem nas regiões boreais. Delas se produz também cerca um quarto do papel que usamos globalmente.
No entanto, a região boreal é das zonas do globo em que as pressões das alterações climáticas mais estão a fazer-se sentir, com o aquecimento a intensificar-se mais rapidamente do que noutras regiões. No norte da América este aumento já atingiu em média os dois graus centígrados (desde 1950), sendo mais intenso no inverno. Este aumento de temperatura tem levado à deslocação de espécies em direção ao norte, onde as temperaturas continuam mais baixas. Contudo, o avanço para norte tem sido mais lento do que a regressão destes ecossistemas a sul, levando a uma provável diminuição da área de floresta boreal.
Entre as consequências das alterações climáticas na floresta boreal contam-se fenómenos muito variados, desde a redução da humidade e chuva, à degradação das áreas permanente congeladas (permafrost), passando pela alteração do tempo médio das estações, pelo aumento de surtos de insetos causadores de pragas e de incêndios, assim como pela redução da vitalidade e crescimento vegetal e da sua capacidade de retenção de carbono. Existem alguns indícios de que as florestas boreais podem estar a passar de reservatórios de carbono a emissores de CO2 para a atmosfera, o que alerta para a necessidade de monitorização deste ecossistema e para a implementação de medidas de gestão e conservação.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.