O Jornal da Notícias de 17 de maio de 2021 trazia a acusação de que a “Exploração pecuária polui mais de 30% dos rios e albufeiras” apontando “Metade da área de Portugal Continental com excesso de azoto animal por causa dos efluentes”.
Reparei que nada se dizia sobre a poluição de origem industrial, as fossas sumidouras das casas e algumas ETAR dos esgotos domésticos que ainda não existem ou funcionam plenamente. Ainda assim, o assunto deve preocupar-nos a todos e ser analisado com rigor para cada setor e, no caso, cada agricultor, assumir as suas responsabilidades.
O artigo baseia-se na “Estratégia nacional para os efluentes agropecuários e agroindustriais” (ENEAPAI) onde vai buscar uma série de dados que mereciam uma análise mais cuidada. Talvez agrónomos e investigadores possam ajudar. Da minha parte, quero deixar duas notas:
A estratégia apontada, dando prioridade à valorização agrícola dos efluentes, onde sejam necessários para fertilização, merece a minha concordância. Houve tempos, não muito distantes, em que se pensou construir ETAR para tratar o chorume das vacas; sempre que tive oportunidade, dei a minha opinião de que seria um erro, pelo gasto energético no transporte, no tratamento e risco de avarias que seria ainda maior do que já ocorre nas ETAR industriais e dos esgotos urbanos.
O princípio está correto, mas as contas que fiz contestam o exemplo escolhido no artigo, que por acaso é o meu concelho. Segundo a notícia, Vila do Conde, com 53 metros cúbicos de efluentes (chorume) por hectare é “largamente excedentário”. Ora, se consultarmos as tabelas das “boas práticas agrícolas” quanto à composição do chorume de bovino em Azoto (53 x 4,5 = 238 kg de N) , Fósforo ( 53 x 1,7=90 kg de P) e Potássio (53 x 9 = 477 kg de K) e quanto às necessidades das culturas habituais (milho no verão e aveia no inverno, cerca de 310 kgs de N + 130 kgs de P + 410 kgs de K) vemos que não há excedentes de azoto e fósforo na média do concelho e que ainda será preciso colocar algum adubo. Há outros números? Valores mais atuais? Apresentem.
Certamente haverá casos pontuais de empresas agrícolas com excesso de efluentes por hectare, mas não muito longe haverá outras quintas e terrenos com falta de nutrientes. É preciso fazer as contas. É preciso mais rigor. Na utilização dos efluentes, dos adubos… e nos textos sobre o assunto.
Explorações pecuárias poluem um terço dos rios e albufeiras de Portugal
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.