O eurodeputado e líder do CDS-PP, Nuno Melo, defendeu hoje num debate promovido pela Lusa que os extremismos de direita e de esquerda podem pôr em causa o projeto europeu nas próximas eleições de junho de 2024.
“A extrema-direita e extrema-esquerda, falo das ‘extremíssimas’, querem destruir o projeto europeu. Nuns casos por saudosismos soviéticos e noutros casos por nacionalismos bacocos”, disse Nuno Melo, considerando “muito importantes”.
O líder do CDS-PP participava com as eurodeputadas Isabel Carvalhais, do PS, e Cláudia Monteiro de Aguiar, do PSD, num debate no quadro do Programa de Formação do Parlamento Europeu para Jovens Jornalistas.
Os três deputados debateram na sede da agência, em Lisboa, questões relacionadas com o alargamento da União Europeia, migrações, asilo, defesa e as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente num painel sobre o “papel da comunicação social em eleições como as europeias”.
Para Nuno Melo, o alargamento do bloco europeu vai ser um dos assuntos centrais das próximas eleições, nomeadamente a questão da Ucrânia.
“Nós vivemos neste momento uma opção que pode ser preocupante e que tem que ver com os alargamentos – e tivemos pelo caminho um Brexit. O alargamento agora comporta muitos riscos e pode ter reflexo nas urnas”, disse Nuno Melo.
O dirigente do CDS-PP recordou ainda o referendo de 2005 em França e na Holanda sobre a Constituição Europeia – que foi rejeitada pelos dois países -, sublinhando que neste momento, “a pretexto do alargamento” está a ser introduzido institucionalmente “muito daquilo que os povos já chumbaram” anteriormente.
Para a eurodeputada Isabel Carvalhais, a Ucrânia pode ajudar a UE a ter mais escala como bloco, mas o processo deve ser levado a cabo com muita lucidez porque não se podem criar expectativas políticas sem cumprir promessas.
A socialista alertou que não se pode pôr em causa o futuro do projeto europeu em áreas vitais como a agricultura.
“A Ucrânia mete a França num bolso do ponto de vista agrícola. A França e a Alemanha são os colossos agrícolas europeus (…) e, por isso, é preciso falar claro às pessoas por causa das implicações futuras e não vender ilusões, os reajustamentos, os tratados (como os critérios de Copenhaga). A Ucrânia não pode ser pensada sem os outros países dos Balcãs ou da Macedónia e da Moldova e deixar estes países de fora não seria uma boa solução porque pode levar a extremismos e a radicalismos”, defendeu Isabel Carvalhais.
Para a eurodeputada do PSD, a Europa é um projeto em permanente construção e “todos os pilares da construção da união fazem parte dos critérios de adesão que têm de ser cumpridos e que farão que a UE alargue também a democracia”.
“Há questões orçamentais que devem ser repensadas mas para mim faz todo o sentido que este processo de alargamento complexo e moroso aconteça. A parte orçamental é o grande busílis da questão”, ressalvou Cláudia Monteiro de Aguiar, referindo-se a questões sociais e outras relacionadas com o setor da saúde.
Em relação à guerra entre Israel e o Hamas, Isabel Carvalhais afirmou que a “pluralidade de pensamento” na UE face à guerra que começou no passado dia 07 de outubro “faz parte de qualquer sociedade”.
“Não é dramático, até porque a Europa tem um histórico de posicionamentos sobre o Médio Oriente que a guerra na Ucrânia não tinha”, disse a eurodeputada socialista.
Para Nuno Melo, a entrada de estrangeiros no espaço europeu deve ser discutida, estabelecendo as “diferenças legais” entre migrantes e requerentes de asilo, mas defendeu não há igualdade entre cidadãos ucranianos e cidadãos palestinianos, no quadro da lei.
“A política nos Estados de Direito é feita de regras e a legislação relativa a asilos é diferente das leis para migrantes. Desde que os requisitos estejam cumpridos e se estiver em causa o risco de vidas, a questão não está em ser-se ucraniano e palestiniano. Em matéria de asilo, a UE não deve nada a ninguém”, afirmou.
Os participantes no debate concordaram que as questões europeias devem estar mais no centro dos debates políticos de cada país, até porque “70% da legislação da UE tem reflexos na vida dos cidadãos do bloco europeu”.
Questionados sobre os eventuais efeitos do caso “QatarGate” (que envolve a vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili) nas eleições de junho, os três intervenientes defenderam mais transparência.
“Não há temas tabus e é preciso mais e melhor sobre novas regras de conduta e de transparência (…) Os políticos são hoje muito escrutinados, mas tenhamos a consciência de que nem todos são iguais porque, caso contrário, estamos a ‘dar para o peditório’ das extremas direitas e dos populismos”, disse a socialista Isabel Carvalhais.
No debate que decorreu hoje em Lisboa estavam previstas as presenças do eurodeputado do Bloco de Esquerda José Gusmão e do eurodeputado do PCP João Pimenta que não puderam participar por motivos pessoais.