O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou hoje que vai “suspender temporariamente” a entrega de ajuda alimentar na Etiópia, devido a suspeitas sobre o alegado desvio de alimentos, mas mantém assistência nutricional a crianças e grávidas e outros programas.
Isto um dia depois de a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) ter anunciado a suspensão das suas entregas naquele país africano.
“Embora tenhamos de suspender temporariamente a assistência alimentar na Etiópia, a assistência nutricional às crianças, às mulheres grávidas e lactantes, os programas de alimentação escolar e as atividades destinadas a reforçar a capacidade de resistência dos agricultores e dos criadores de gado continuarão ininterruptamente”, declarou a agência das Nações Unidas em comunicado.
O PAM afirmou que está a acelerar os seus esforços para melhorar as salvaguardas e os controlos em vigor e garantir que a ajuda humanitária chegue às pessoas vulneráveis, um processo que incluirá trabalhar “mais diretamente” com as comunidades e utilizar a tecnologia para identificar as pessoas mais necessitadas e verificar a sua identidade em tempo real.
A agência da ONU sublinhou igualmente que irá reforçar o acompanhamento dos alimentos até à sua entrega aos beneficiários bem como o sistema de controlo e de comunicação das violações e da utilização indevida da ajuda alimentar por parte dos parceiros, em colaboração com as agências das Nações Unidas e os parceiros humanitários.
“O desvio de alimentos é absolutamente inaceitável e aplaudimos o empenho do Governo etíope em investigar e responsabilizar os culpados”, declarou a diretora executiva do PAM, Cindy McCain.
“A nossa principal preocupação são os milhões de pessoas famintas que dependem do nosso apoio e as nossas equipas trabalharão incansavelmente com todos os parceiros para retomar as nossas operações assim que pudermos garantir que os alimentos cheguem às pessoas que mais precisam”, afirmou.
“Como humanitários, temos de poder chegar às mulheres, homens e crianças mais vulneráveis sem restrições e sem desvios. Temos de trabalhar em conjunto para aprender e evitar que isto volte a acontecer no futuro”, sublinhou.
Mais de 20 milhões de pessoas necessitam urgentemente de ajuda alimentar na Etiópia devido aos efeitos do conflito com a Frente Popular de Tigray (TPLF) entre 2020 e 2022 e à seca.
O Governo etíope e a USAID emitiram uma declaração conjunta na quinta-feira anunciando o “seu compromisso de abordar as revelações profundamente preocupantes sobre o desvio de ajuda alimentar na Etiópia”.
“Os dois governos estão a realizar investigações para responsabilizar os responsáveis por este desvio. E estão empenhados em trabalhar em conjunto para criar um sistema eficiente de distribuição de ajuda na Etiópia, que proteja a ajuda de qualquer desvio”, refere o comunicado.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) anunciou na quinta-feira a suspensão de ajuda alimentar à Etiópia, após uma investigação interna ter revelado que os fornecimentos destinados a pessoas necessitadas estavam a ser desviados numa escala “generalizada”.
“Após uma análise a todo o país, a USAID determinou, em coordenação com o Governo da Etiópia, que uma campanha generalizada e coordenada está a desviar a assistência alimentar destinada ao povo da Etiópia”, lê-se num comunicado.
Na nota, a USAID, que não identifica quem desvia a ajuda alimentar e reconhecendo que se trata de uma “decisão difícil”, acrescenta que retomará o apoio somente quando forem efetuadas reformas.
Os Estados Unidos são o maior doador individual da Etiópia, tendo fornecido 1,8 mil milhões de dólares (cerca de 1,7 mil milhões de euros) em assistência humanitária, incluindo ajuda alimentar, no ano fiscal de 2022.
Segundo a agência noticiosa AP, um memorando interno preparado por um grupo de doadores humanitários, apontava para o envolvimento do Governo federal da Etiópia no desvio da ajuda alimentar.
“O esquema parece estar a ser orquestrado por entidades do governo federal e regional da Etiópia, com unidades militares de todo o país a beneficiarem de assistência humanitária”, refere o documento a que a AP teve acesso e elaborado pelo Grupo de Doadores Humanitários e de Resiliência, que inclui parceiros bilaterais e multilaterais.
Os porta-vozes do Governo federal da Etiópia não responderam ainda aos pedidos de comentário.