Situada no Parque Empresarial de Ferreira do Alentejo a Migdalo, S.A. é uma empresa verticalmente integrada, que produz, transforma e comercializa amêndoa. O diretor-geral da empresa, Miguel Matos Chaves respondeu às nossas questões para ficarmos a conhecer melhor este projeto ligado à família Sevinate Pinto.
Tendo sido pioneira na dinamização da cultura do amendoal no Alentejo, o que esteve na base desta visão?
Na procura de culturas alternativas às mais tradicionais e expressivas na região, que permitissem aproveitar não só o potencial edafoclimático da região mas também um fornecimento de água mais estável depois da ligação do perímetro da barragem do Roxo ao sistema do Alqueva, na altura a família Sevinate Pinto analisou um novo leque de culturas que agronomicamente fossem interessantes e que permitissem rentabilizar esse potencial.
Cedo a cultura da amêndoa começou a evidenciar-se, sobretudo devido às questões de mercado, onde se notava uma tendência de crescimento sustentado do consumo mundial de amêndoa, a um ritmo mais forte que o aumento de produção.
Qual a área própria da empresa? Também trabalham com área contratada?
Atualmente a Migdalo conta com 175 ha de amendoal próprio, sendo que esta área continua em expansão. Através dos nossos serviços de assessoria técnica para a instalação de novos pomares e para a gestão de amendoais, participamos ainda na gestão de cerca de 500 hectares de amendoal.
Quais são as características do amendoal próprio (variedades, compassos, …)?
Para os nossos amendoais, plantados em várias fases desde 2013, elegemos sempre variedades mediterrânicas de casca dura, de floração tardia e auto-férteis, por pensarmos que são as que melhor se adaptam às condições da região. Elegemos as variedades Belona, Soleta e Vairo que atualmente são plantadas numa densidade de 400 árvores por hectare, num modelo produtivo de regadio, com árvores conduzidas em copa, preparadas para a colheita mecanizada.
Nos amendoais da Migdalo implementamos práticas culturais promovidas e enquadradas no modelo de Agricultura de Conservação da FAO – Food Agriculture Organization, tais como o enrelvamento na entrelinha, através de pastagens biodiversas naturais ou semeadas e a não mobilização do solo. Estas práticas e este modelo produtivo são reconhecidos internacionalmente por originarem uma melhoria da eficiência do uso de água e nutrientes, contribuírem para o aumento da atividade dos microrganismos no solo e consequente melhoria da fertilidade do solo, para além de ajudarem à preservação da fauna auxiliar e conservação da biodiversidade.
O que já mudou desde que se iniciaram na cultura?
À medida que os anos vão passando a cultura tem evoluído consideravelmente. Além do que se vai aprendendo na região também temos adquirido muito conhecimento com o que se faz lá fora, tanto na Europa como na Califórnia, através de visitas a outros produtores, empresas de transformação, empresas comercializadoras e aos principais centros de investigação e de ensino.
Penso que as principais mudanças relacionam-se sobretudo com a forma como as várias variedades se comportam na nossa realidade ambiental e com o termos melhorado as várias práticas culturais, conseguindo hoje que os amendoais comecem a ter produções bastante interessantes mais cedo do que o inicialmente previsto.
Que balanço pode ser feito das últimas campanhas?
De uma forma geral, a maior parte dos amendoais no Alentejo só recentemente entraram ou estão a entrar em produção, pelo que as últimas campanhas são pouco representativas. Este ano já existe uma área bastante maior em produção e os amendoais estão em excelentes condições de desenvolvimento, saudáveis e com um potencial produtivo muito interessante, fruto do bom trabalho que tem sido desenvolvido pelos produtores. Prevêem-se ótimas produtividades para a generalidade dos casos. Pode ser considerado um ano de afirmação e consolidação do potencial da cultura na região.
E quanto à unidade fabril, como é que se desenrola o processo produtivo?
A unidade industrial, localizada em Ferreira do Alentejo, tem tido um grande efeito “ancorador” e tem contribuído para o desenvolvimento da área da cultura na região. Atualmente na unidade efetua-se a despela e o descasque de amêndoa (própria e de outros produtores da região), originando miolo de amêndoa.
Como via de crescimento futuro e de alargamento do leque de produtos oferecidos, temos equacionado entrar na segunda transformação ou nos industrializados de amêndoa, mas tudo a seu tempo.
Qual é a capacidade de processamento e falamos de que volumes por campanha?
Com a capacidade instalada atualmente, a fábrica pode processar a amêndoa de cerca de 1.000 hectares de amendoal em plena produção, podendo ser aumentada à medida das necessidades.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 229 (ago.set 2019)