Vera Cruz. O nome que Pedro Álvares Cabral deu ao Brasil quando ali chegou no século XVI foi o mesmo que David Carvalho e Filipe Rosa escolheram para o projeto luso-brasileiro que está a trazer a cultura da amendoeira para a Beira Baixa. Entre os concelhos do Fundão e Idanha-a-Nova o projeto prevê chegar aos dois mil hectares de produção própria, contando já com mais de 300 plantados.
Apresentado publicamente há pouco tempo, tendo sido igualmente reconhecido pela AICEP como Projeto de Potencial Interesse Nacional a pergunta que se impõe é porquê a Beira Baixa? A resposta é-nos dada pelo diretor-geral da Veracruz, engenheiro civil, de nacionalidade brasileira. Gustavo Ramos veio para Portugal há cerca de dois anos, abraçar o desafio da agricultura, e recorda que os dois sócios fundadores da empresa também não tinham qualquer ligação a esta atividade. Ao analisarem possibilidades de investimento concluíram que o amendoal seria uma boa opção e dado o facto de ser uma cultura que apenas pode ser cultivada em poucos locais do mundo, onde Portugal se insere, a escolha do país prendeu-se com as condições de segurança e credibilidade que demonstra. Já a Beira Baixa reúne tudo o que a amendoeira precisa: clima, solos, disponibilidade de terra e de água.
Acompanhada de Gustavo visitámos a Herdade do Vale Serrano, onde as pequenas árvores já são a perder de vista. Situada no concelho de Idanha-a-Nova, tem uma dimensão de 418 hectares e vão ali ser plantadas cerca de 530 mil plantas, de três variedades diferentes: Soleta, Laurane e Guara. A escolha das variedades é aliás uma fase fulcral no processo, sendo por isso fundamentada em vários tipos de estudos que além de concluírem qual deve ser a opção, também baseiam o compasso de plantação. Já no Fundão (Herdade do Carvalhal), além da Soleta e da Laurane a escolha foi também a Penta e a Belona. Mas há muitos mais hectares para plantar até perfazer os dois mil hectares de objetivo final, o que significa que poderá haver outras escolhas a nível varietal, tendo em conta também a necessidade de posterior escalonamento da colheita. Já foram adquiridos 1300 hectares na região e há movimentações de terras a decorrer noutros espaços. No final serão quatro herdades em Idanha e uma no Fundão.
Dentro de três anos serão 2000 hectares plantados e uma fábrica em produção
A perspetiva é que a partir do momento que exista uma quantidade de amêndoa que já o justifique (dentro de três anos) a unidade fabril projetada também esteja concluída. Nessa altura o Carvalhal vai estar em plena produção, o Vale Serrano estará a um ano disso e os restantes hectares terão sido plantados. Refira-se que a unidade terá disponibilidade para fazer descasque de amêndoa de outros produtores da região.
A própria fábrica também começará a trabalhar de forma faseada. Começará por separar a casca do miolo e vendê-lo a granel, eventualmente com algumas experiências de embalamento. Num segundo momento já será dada utilização à casca (biomassa, pellets …) e posteriormente avançar-se-á com o processamento da amêndoa. A localização desta unidade agroindustrial ainda está em análise, com o Fundão, Idanha-a-Nova e Castelo Branco na corrida.
Perspetivando o mercado, Gustavo Ramos recorda que o maior produtor (mundial) de amêndoa é os EUA, mas o maior importador mundial de amêndoa é Espanha. “Embora Espanha tenha uma área plantada semelhante à dos EUA, a produtividade é muito menor e acaba servindo como um HUB de distribuição de amêndoa para a Europa. Já o maior consumidor é a Alemanha. O planeamento da empresa é que por volta de 80% da produção seja exportada. Claro que se o mercado português absorver a produção ela fica em Portugal, mas não é de crer que essa percentagem vá alterar-se muito”.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 229 (ago.set 2019)