Moçambique está em negociações com alguns países para vender direitos sobre emissões de carbono, disse hoje o Presidente, Filipe Nyusi, ao intervir na sessão plenária da Cimeira das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), no Dubai.
“Moçambique aderiu à iniciativa africana dos mercados de carbono e iniciámos a elaboração de um plano de ativação do mercado de carbono. Estamos em negociações com alguns países para assinar um acordo de venda dos resultados de redução de emissões”, afirmou o chefe de Estado, sublinhando o “potencial” do país para “gerar créditos de carbono” nos setores florestal, agrícola, de energias renováveis e na economia azul.
“Em 2018, fomos o primeiro país a receber benefícios com a certificação de 1,9 milhão de créditos de carbono. Em termos de uso de energias renováveis para produção de energia elétrica, em Moçambique cerca de 70% da energia produzida vem de fontes hídricas, 14% de gás natural e 16% das restantes fontes, com destaque para a energia solar”, sublinhou na mesma intervenção.
Na COP28 do Dubai, Filipe Nyusi garantiu que Moçambique apoia “iniciativas inovadoras de financiamento de conversão da dívida pela ação climática e acesso ao financiamento concessional aos países em desenvolvimento”.
“Sendo esta a primeira COP após o Acordo de Paris a fazer o balanço global da situação em termos de mitigação das mudanças climáticas, aproveitamos a oportunidade para instar as partes a honrar os compromissos assumidos de apoiar os países que pouco contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, mas possuem recursos domésticos limitados para financiar a ação climática”, apelou ainda.
“Ainda instamos as diferentes instituições governamentais e não governamentais para aumentar o financiamento às ações de investigação e inovação tecnológica, porque com o conhecimento científico, as comunidades poderão saber como melhor se adaptar às mudanças climáticas”, insistiu.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.
Já no primeiro trimestre deste ano, as chuvas intensas e a passagem do ciclone Freddy provocaram 306 mortos, afetaram no país mais de 1,3 milhões de pessoas, destruíram 236 mil casas e 3.200 salas de aula, segundo dados oficiais do Governo.
As Nações Unidas têm vindo a insistir na necessidade de adoção imediata de “medidas espetaculares” para impedir um maior aquecimento global, quando o planeta caminha para os 2,9ºC de aquecimento.
Para impedir um aumento de 3°C das temperaturas no final do século, todos os países terão de reduzir emissões muito para além das promessas atuais, cortando 42% das emissões até 2030 se quiserem não ultrapassar os 1,5°C, uma meta assumida em 2015 no Acordo de Paris sobre redução de emissões, indica um relatório da ONU.
O relatório foi divulgado dias antes do início de mais uma cimeira da ONU sobre o clima (COP28), decorre desde quinta-feira até 12 de dezembro no Dubai, com a ambição de fazer o primeiro balanço global do Acordo de Paris.