A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pediu uma audiência urgente ao Governo para reclamar a reversão dos cortes nos baldios ou a venda dos produtos a preço justo, alertando para “omissões preocupantes” no programa governamental.
A CNA, suas afiliadas e alguns agricultores regressaram hoje a Vila Real, depois da grande manifestação com tratores em fevereiro, para, em conferência de imprensa, alertarem para os problemas da agricultura que ficaram sem resposta com o anterior Governo.
O dirigente nacional Vítor Rodrigues adiantou que a CNA fez um pedido de audiência urgente ao novo ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, no entanto referiu que depois de ler o Programa do Governo, ficou com “mais inquietações do que respostas”.
“O programa do Governo não diz uma única vez baldios, não diz uma única vez pequena e média agricultura ou agricultura familiar e não diz uma única vez, por exemplo, Casa do Douro”, salientou à porta do antigo Governo Civil de Vila Real, onde estão instalados os serviços locais da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).
Omissões que classifica como “bastante preocupantes” porque deixam em aberto a ideia de que o Governo não quer atacar os problemas e adotar soluções, advertindo que os agricultores não vão desmobilizar.
“Só abrindo o melão é que a gente sabe o que está lá dentro e isso quer dizer que sabemos que este novo ministro, enquanto foi eurodeputado, votou a favor desta Política Agrícola Comum (PAC), a mesma PAC que gerou o descontentamento que houve nos últimos meses e, portanto, cabe-lhe a ele dar sinais”, afirmou Vítor Rodrigues.
Os agricultores querem reverter os cortes nas ajudas aos baldios, querem uma lei que não permita a compra de produtos aos agricultores abaixo do custo de produção, indemnizações pelos prejuízos causados pelos animais selvagens, eleições na Casa do Douro e reverter a extinção das Direções Regionais de Agricultura e Pescas (DRAP), inseridas nas CCDR.
Eunice Tavares possui 21 vacas maronesas, no concelho de Vila Real, e até quer aumentar o seu efetivo, mas diz que são muitos os entraves.
“Os apoios são cada vez mais reduzidos aqui para o Norte e temos agora um problema enorme que é o corte das áreas de pastoreio de baldios”, frisou, explicando que havendo menos área elegível disponível não consegue candidatar a área que precisava para receber os apoios que necessita para manter a exploração.
Eunice Tavares destacou o aumento dos custos de produção, como o gasóleo agrícola, a manutenção das máquinas, a comida dos animais e considerou que, assim, “vai haver um abandono enorme da agricultura”.
Em Vila Pouca de Aguiar há 19.000 hectares de área baldia e distribuída aos compartes, para efeitos de subsídios agrícolas, só são considerados 2.500 hectares, sendo que, em 2023, eram considerados 5.000. Neste concelho há 1.500 explorações e mais de 15.000 cabeças de gado.
“Estes números são preocupantes, mas são o reflexo de todo o Norte. Os cortes têm sido muito significativos e muito dramáticos. Deixámos de ter áreas para podermos candidatar às ajudas”, frisou Teresa Gonçalves, da Associação dos Agricultores e Pastores do Norte.
No Douro, os agricultores reclamam preços justos à produção e deixam um alerta: “A cada ano que passa é um degrau que cada viticultor desce do limiar da pobreza porque os preços não aumentam e até baixam”, afirmou Vitor Herdeiro da Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense (Avadouriense).
Também viticultor, este dirigente exemplificou com o seu caso e disse que, no ano passado, recebeu 300 euros pela pipa de vinho de consumo e 900 euros pela pipa de vinho do Porto, valores abaixo do que era esperado.
“Nós a esses preços não temos hipótese”, afirmou, realçando o aumento dos custos de produção, nomeadamente o preço dos fitofármacos que têm cada vez mais que ser aplicados devido às alterações climáticas.