Se está cansado de brancos que cheiram ao mesmo, experimente os vinhos da casta Vital da região de Lisboa com tempo de estágio. Isso fará bem à sua educação e à promoção da biodiversidade da videira. E, já agora, fique a saber que os croatas andam de olho nela.
“O meu propósito é manter castas autóctones e de vinhas velhas, entre elas a Vital”, defende Marta Soares, a autora dos vinhos Casal Figueira. “Se nós não pagássemos bem as uvas Vital ao agricultor Delfim Cordeiro, ele já teria arrancado as vinhas”, realça Diogo Lopes, enólogo da Adega Mãe. Bem trabalhadas, estas frases dariam slogans perfeitos numa t-shirt branca salpicada de mosto de uva. Não deram — por enquanto —, mas dão jeito hoje para falarmos de vinhos brancos fantásticos e únicos num mundo que, nos grandes volumes, insiste em fazer vinho como quem faz refrigerantes. Donde, a casta Vital, na região de Lisboa, é uma bênção e merece atenção de toda a gente de bom gosto.
Há uma década havia no mercado dois varietais da casta Vital: o Casa das Gaeiras e o Casal Figueira. Hoje podemos acrescentar o Vital da Adega Mãe, o Vital Ramilo, o Vital de Hugo Mendes, o Vital Empatia, da Adega Cooperativa da Labrujeira (ACL), e o Vital da Quinta de Pancas. E, pelos vistos, não ficaremos por aqui.
A casta Vital é filha do cruzamento entre a Malvasia Fina (pela parte da mãe) e a Rabo de Ovelha (pela parte do pai). Por felicidade ou infelicidade, caiu na categoria das castas aneiras, significando isto que têm produções irregulares em função das condições climáticas.
O caso é tão peculiar com a Vital que, por vezes, as uvas, na altura da vindima, estão perfeitas num dia e, no outro, estão engelhadas ou podres, coisa que põe os agricultores à beira de um colapso cardíaco. Quando a perda é radical, os produtores dizem que a casta é uma meretriz (enfim, na realidade usam um sinónimo começado com a letra p, mas adiante que podem estar crianças na sala).
De resto, no processo de maturação, a cor da película das uvas passa rapidamente do verde/amarelado para a fase “pintada dos pardais” ou “cagada dos […]