Os agricultores do litoral alentejano dizem que a seca deste ano é uma ”calamidade” por não haver água nas albufeiras de Campilhas e Alto Sado.
Só nos concelhos de Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, e Ourique, no distrito de Beja, deverão ficar por plantar cerca de 3.700 hectares de terrenos que não têm acesso à água da grande barragem do Alqueva.
Ilídio Martins, vice-presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), já fez as contas e admite ser preciso recuar até aos anos 70 do século passado para encontrar um cenário semelhante ao que os agricultores estão hoje a ver.
Nesta altura, estamos a passar por uma situação muito difícil, só comparável aos anos 70, em que as barragens de Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha estão no nível mínimo de armazenamento, não havendo perspetivas de rega na agricultura”, diz à agência Lusa.
Com um inverno “sem chuva”, o armazenamento de água “não foi garantido” e, atualmente, “as barragens estão completamente vazias”, deixando cerca de 180 explorações agrícolas da zona “em risco de parar”, num total de 3.700 hectares.
Na albufeira de Campilhas, no concelho de Santiago do Cacém, a água “pode parecer muita para quem não sabe, mas não chega para a campanha de rega deste ano”, afirma, apontando para os níveis que deveriam estar submersos.
O cenário idêntico “vivido” nas barragens de Fonte Serne (Santiago do Cacém) e Monte da Rocha (Ourique) coloca “em risco” os “3.700 hectares de culturas de arroz, milho, tomate, olival e hortícolas”, além de pastagens.
No ano passado, a seca também assustou os agricultores, que foram salvos pelas chuvas de março, as quais, recorda Ilídio Martins, permitiram o armazenamento de água nas barragens para “fazer as culturas”.
Mas, este ano, “as perspetivas não são as melhores”, lamenta: “Já estamos em abril e, apesar das previsões de chuva para os próximos dias, seria necessária muita precipitação para ter água armazenada para a campanha de rega”.
Na mesma zona, em Foros do Locário, Santiago do Cacém, Joaquim Sobral remexe a terra seca numa das parcelas dos 200 hectares de terreno que todos os anos, por esta altura, estaria a ser preparada para o início da campanha do arroz.
Este ano, “é quase impossível regar os campos de arroz, que é a cultura que aguenta toda a estrutura e é a nossa subsistência, porque no meu caso são 200 hectares”, lamenta.
Se não cultivar este ano, Joaquim diz temer pela subsistência da família e de “toda a estrutura agrícola que mantém a custo” há dezenas de anos.
“Não tem chovido mesmo nada, até mesmo as pastagens dos animais estão todas perdidas”, salienta, frisando que os terrenos “estão a degradar-se de dia para dia”. Se em 2018, ainda “deram 200 fardos de comida para os animais”, este ano, “não foram além dos 60”.
Segundo Joaquim, que conta que as forragens semeadas “não tiveram o desenvolvimento normal e agora, com as temperaturas muito altas, acabam por secar”, se o Governo “não se debruçar sobre este problema”, os agricultores é que vão sofrer: “Vamos ficar aqui todos falidos”.
Atento à situação está o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, que receia as consequências da seca na agricultura de regadio no interior deste concelho do litoral alentejano.
“Há uma parte mais interior do concelho já servida por Alqueva, mas há uma área significativa que depende apenas das barragens de Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha, que ainda não estão servidas por Alqueva e que, devido às cotas muito baixas, põem em causa o normal das culturas de regadio”, refere.
Além de defender “medidas compensatórias” para os agricultores, o autarca apela ao Governo “para que faça uma avaliação do preço da água de Alqueva e encontre soluções que permitam aos agricultores realizar a sua campanha”.
Por seu lado, os agricultores, enquanto esperam pela chuva, fazem contas à vida e também pedem medidas compensatórias ao Ministério da Agricultura.
“Os agricultores estão preocupados e era importante que o nosso ministério estivesse atento, porque não se podem desativar as explorações agrícolas”, apela Ilídio Martins, da ARBCAS, defensor da criação de “uma comissão para acompanhar a situação e encontrar soluções para mitigar esta seca”.