Agricultores do distrito de Aveiro participaram hoje numa marcha de tratores em Ovar, exigindo apoios urgentes e duradouros para evitar o fecho de explorações agropecuárias, devido ao aumento dos custos de produção resultante da covid-19 e da guerra.
A iniciativa foi promovida pela União de Agricultores e Baldios do Distrito de Aveiro (UABDA) e envolveu cerca de 20 proprietários de explorações agropecuárias, propondo-se funcionar como “um apelo a que o Governo defina apoios estáveis para o setor e não apenas medidas extraordinárias que não resolvem o problema de fundo”.
A análise é do presidente da UABDA, Carlos Alves, que, antes da marcha lenta com oito tratores e vários veículos ligeiros entre Válega e a Câmara Municipal de Ovar (onde os manifestantes deixaram uma moção que a autarquia deverá fazer chegar ao Governo), declarou à Lusa estar “muito preocupado com a autonomia alimentar do país”.
Esse responsável explica: “Sempre nos queixámos dos custos de produção e a covid veio fragilizar mais a nossa situação, mas, agora, com a guerra [na Ucrânia], o problema ficou ainda pior. As medidas que reivindicamos são urgentes, têm que ser duradouras – porque isto não vai lá com apoios extraordinários, pontuais – e já deviam ter sido implementadas há muitos anos”.
Realçando que no ano passado “fecharam umas 30 explorações de leite só no distrito de Aveiro”, Carlos Alves considera que uma prioridade é “aplicar efetivamente a Lei da Energia Verde”, que assegura valores mais baratos à eletricidade e ao gasóleo do setor primário, e outra é “regular os preços de fatores de produção como os combustíveis, as rações, as máquinas e os fertilizantes”, que estão a ter uma “escalada brutal”.
Controlar o abuso das grandes superfícies comerciais é o passo seguinte: “Ainda ontem [terça-feira] uma produtora denunciou o caso de um hipermercado que lhe está a pagar 17 cêntimos [por quilo] pela couve-coração e depois a vende a dois euros. A margem para especulação é enorme e é preciso que os consumidores se juntem nesta luta, porque só eles e nós é que somos prejudicados – anda o produtor e o consumidor a passar dificuldades, enquanto o lucro fica todo pelo meio, nos intermediários e no vendedor final”.
O presidente da UABDA teme pela independência alimentar do país e, aproveitando que a ministra da Agricultura mostrou partilhar da mesma preocupação, apela a que a governante privilegie medidas de apoio permanente como “a redução dos pagamentos à Segurança Social exigidos aos pequenos e médios agricultores” e a “efetiva entrada em vigor do estatuto de agricultor familiar, que está na gaveta há muitos anos”.
Linhas de crédito não são, para Carlos Alves, solução adequada.
“Tem que ser ajuda direta e de preferência sem juros, porque o futuro da agricultura portuguesa, se já estava mau, agora não é nada risonho e, por este andar, a nossa alimentação vai ficar dependente da boa-vontade dos países estrangeiros”, disse.
Da moção que a UABDA entregou ao presidente da Câmara de Ovar, para que esse interceda junto do Governo “em defesa da produção alimentar nacional e de rendimentos dignos para os produtores”, constam ainda três outras exigências: “a criação de uma lei que proíba as vendas com prejuízo ao longo de toda a cadeia agroalimentar”, “o controlo das importações desnecessárias” e “indemnizações pelos prejuízos causados nas culturas agrícolas por javalis e outros animais selvagens”, assim como o controlo das respetivas densidades populacionais.