O primeiro exercício realizado no terreno com este tipo de meios permitiu pôr em prática a formação ministrada num curso certificado.
Quando o fumo começou a surgir no cume da serra, junto ao parque eólico da Lousã, o técnico da The Navigator Company fez o contacto via rádio com o centro de coordenação operacional da AFOCELCA. Informou o agrupamento privado de combate a incêndios rurais sobre o que estava a observar e fez o primeiro pedido de meios. Em período crítico – entre 1 de junho de 30 de setembro – o tempo de resposta do dispositivo é de dois minutos.
Quando os meios terrestres chegaram ao local, o técnico da empresa passou ao chefe de equipa da AFOCELCA toda a informação necessária para dar início às ações de combate ao incêndio. Sabia qual a informação relevante a transmitir graças à formação recebida durante o resto do ano e, neste caso, nos dois dias anteriores, no segundo curso de “Combate a Incêndios com Recurso a Máquinas de Rasto”.
“Foi muito importante testar a ação das máquinas de rasto. Temos sete este ano, mais uma que no ano passado, e estamos a usar equipamento que permite georreferenciar o trabalho que cada uma está a fazer”, diz Sérgio Gomes, diretor da AFOCELCA
Desta vez os bombeiros locais não foram os primeiros a chegar ao local porque estavam informados de que se tratava apenas de um simulacro. Aliás, estavam três elementos dos bombeiros de Castanheira de Pera, de Pedrogão Grande e de Ansião entre os observadores do exercício, depois de terem participado na formação que decorreu a 25, 26 e 27 de maio na freguesia de Campelo, concelho de Figueiró dos Vinhos, juntamente com técnicos dos serviços de Proteção Civil e dos gabinetes técnicos florestais da região, e operacionais da Afocelca.
“As nossas ações de formação”, esclarece Sérgio Gomes, diretor do agrupamento criado por duas empresas de base florestal, a The Navigator Company e a Altri, “são direcionadas para os chefes de equipa da AFOCELCA e os técnicos das duas empresas, mas tentamos incluir outros agentes da zona, nomeadamente bombeiros, sapadores florestais e serviços municipais envolvidos no combate aos incêndios rurais. Se as pessoas se conhecerem este esforço comum é mais prolífico.”
Apesar de se tratar do maior dispositivo privado nacional de proteção florestal, a ação da AFOCELCA, em situação real, decorre em estreita articulação com Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. Mais de 92% das intervenções dos seus meios de combate a incêndios ocorre em propriedades de terceiros, com uma área de atuação de 2 milhões de hectares e 192 concelhos na sua rede de vigilância em Portugal continental.
Testar os meios no terreno
No dia 27 de maio, às 16h00, após terminarem o curso certificado de 25 horas sobre combate a incêndios com máquinas de rasto – a AFOCELCA é uma entidade formadora certificada – os 20 participantes no módulo subiram a serra para testar, no terreno, o que tinham aprendido e alguns mecanismos novos que vão ser implementados este ano. É o caso do uso, pela primeira vez, de um drone. “Queríamos testá-lo a operar em simultâneo com o helicóptero, para perceber quais os constrangimentos de segurança para ambos os meios aéreos e perceber como pode dar apoio à tomada de decisão”, explica Sérgio Gomes.
Os desafios começaram logo ao nível das condições meteorológicas, que não permitiram o uso de fogo real. Foram largadas bombas de fumo. Criado o cenário e simulada a deteção do incêndio e o pedido de mobilização do dispositivo, surgiu o segundo constrangimento: a deteção de uma avaria impediu o helicóptero de sair de Lisboa. Não podendo tê-lo no ar durante o exercício, foi simulado que a avaria do meio aéreo obrigou a largar a brigada helitransportada no solo e que esta teve de atuar com material sapador. Os cinco elementos juntaram-se aos restantes operacionais que conduziam dois veículos pesados de combate a incêndio, duas máquinas de rasto e o drone. No total, estiveram envolvidas no exercício 32 pessoas, entre técnicos e alguns formandos.
“Foi muito importante testar a ação das máquinas de rasto. Temos sete este ano, mais uma que no ano passado, e estamos a usar equipamento que permite georreferenciar o trabalho que cada uma está a fazer numa ação de combate, o que nos permite ter, à distância, uma visão global do que se passa no terreno”, refere o diretor da AFOCELCA. A utilização crescente das máquinas de rasto nos incêndios rurais permite realizar um combate direto e indireto, abrindo aceiros ou caminhos que permitem a progressão das equipas terrestres ou helitransportadas, ou ancoram o incêndio numa zona, impedindo que avance.
Na época de incêndios, estas máquinas de lagartas são usadas na primeira intervenção, com dois operadores – um para a máquina e outro para o camião que a transporta – e, durante o resto do ano, trabalham na floresta, nas operações preventivas de silvicultura. Todo o dispositivo do agrupamento é evolutivo, sendo reforçado no período crítico. Este ano, de 1 de junho a 30 de setembro, envolve mais de 450 pessoas, estando a estrutura presente, como é habitual, nos 18 Comandos Distritais de Operações e Socorro. “O exercício, o primeiro envolvendo este conjunto de meios, foi muito positivo para testar os mecanismos e perceber os constrangimentos que existem no envolvimento de vários equipamentos ao mesmo tempo no cenário de operações, fruto da nova tecnologia”, conclui Sérgio Gomes.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.