O presidente da Adega de Monção apontou hoje como “maiores dificuldades” da cooperativa o fornecimento de garrafas de vidro e de embalagens de cartão, matéria-prima cujo preço regista uma “subida exponencial e frequente”.
“Há falta de cartão e de vidro no mercado e, por isso, tem havido atrasos consecutivos nas entregas desta matéria-prima. Além dos atrasos, há o problema das subidas dos preços que têm sido enormes e seguidas. Ainda hoje recebi preços de matérias-primas e há um aumento exponencial dos preços. Os preços sobem todos os dias. Todos os dias recebemos comunicações de fornecedores com aumento do preços”, afirmou Armando Fontainhas.
Contactado pela agência Lusa, o responsável adiantou que a Adega Cooperativa de Monção, no distrito de Viana do Castelo, “tem de receber dois camiões de garrafas, todos os dias”.
“Ontem [quarta-feira] e hoje não receberemos nenhum. A Adega, por dia, produz entre 40 e 45 mil garrafas de vinho”, especificou, referindo que, além da subida de preços do vidro e do cartão, os custos com o transporte dispararam, com o aumento dos combustíveis.
“Há produtos que aumentaram de preço, este ano, quatro vezes, como as garrafas de vidro e as caixas de cartão”, frisou.
Segundo Armando Fontainhas, desde o final do ano passado, por causa da pandemia de covid-19 que se começaram a sentir dificuldades justificadas com o aumento do preço dos combustíveis.
“Agora, com a invasão [da Ucrânia pela Rússia] exponenciou. O que eram subidas mais espaçadas e mais curtas, neste momento, são frequentes”, observou.
Atualmente, a adega, que emprega 31 trabalhadores, “ainda está a conseguir cumprir os prazos de entrega das encomendas”, mas admitiu “constrangimentos na produção interna”, que tenta vencer com uma “gestão dia-a-dia”.
“Com os ‘stocks’ de garrafas que temos, com alterações constantes na produção, e na gestão interna, estamos a conseguir entregar as encomendas que vamos tendo, mas vejo os problemas a agravarem-se a cada dia que passa”, lamentou.
Além da “muita dificuldade no acesso às garrafas e caixas de cartão, quer pelo custo quer pela disponibilidade”, Armando Fontainha referiu ainda que “os fertilizantes, herbicidas e fitofármacos estão caríssimos”, situação que, “nesta altura, têm mais impacto nos 1.630 cooperantes” responsáveis por uma área vinícola 1.151 hectares.
A adega produz 6,5 milhões de garrafas por ano, cerca de 80% para o mercado nacional, e o restante para exportação para 30 países como EUA, Polónia Reino Unido, França, Brasil, Japão e China.
“É a maior adega cooperativa da região dos vinhos verdes. O ano de 2021 foi o nosso melhor ano de sempre com uma faturação de 16,4 milhões de euros”
A adega de Monção, concelho que juntamente com Melgaço forma uma sub-região demarcada dos Vinhos Verdes, e onde a casta Alvarinho é melhor representada, foi fundada a 11 de outubro de 1958, por iniciativa de 25 viticultores e produz, entre outros vinhos, as marcas “Alvarinho Deu La Deu”, “Muralhas” ou “Adega de Monção”.
Armando Fontainha faz parte da direção da instituição desde 2001. Desempenhou as funções de vice-presidente durante 13 anos e, nos últimos nove anos, assumiu a presidência.
Segundo dados da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), a sub-região de Monção e Melgaço tem uma área total de 45 mil hectares, 1.730 dos quais cultivados com vinha, sendo que a casta Alvarinho ocupa cerca de 1.340 hectares.
A sub-região tem no mercado 253 marcas de verde, produzidas por 2.085 viticultores e 67 engarrafadores.
Por ano, os dois concelhos produzem 10,2 milhões de litros de vinho verde (74% branco, 10% tinto e 3% rosé).
Desde 2015, a produção de Alvarinho foi alargada a outras zonas do país, fora dos dois concelhos do Alto Minho, em resultado de acordo alcançado pelo Grupo de Trabalho do Alvarinho (GTA), constituído pelo anterior Governo PSD/CDS e liderado pela CVRVV, defensora do alargamento da produção daquele vinho aos 47 municípios que a integram.
O acordo foi aceite pelo município de Monção. Já os produtores de Melgaço, acionistas da empresa “Quintas de Melgaço”, cuja maioria do capital é detido pela autarquia, contestam o acordo, considerando que “prejudica” a sub-região.