Com mais de 19,5 mil empresas e perto de 103 mil pessoas ao seu serviço (2022), o tecido empresarial ligado à floresta é um indicador da importância económica deste ecossistema. Em paralelo, o emprego florestal cria valor essencial para contrariar o despovoamento das áreas rurais.
Desde os trabalhos de exploração florestal no terreno ao comércio de materiais florestais, passando pelas indústrias que transformam a matéria-prima em produtos indispensáveis ao dia a dia, a floresta portuguesa é uma fonte de riqueza transversal aos sectores primário, secundário e terciário. O seu valor abrangente reflete-se também na dimensão do emprego florestal e das empresas em atividade: em 2022, havia quase 103 mil pessoas ao serviço e mais de 19,5 mil empresas.
Vejam-se as estatísticas oficiais. Em 2022, o sector florestal representou 2,25% do emprego nacional e empregava 102975 pessoas diretamente na silvicultura, nas indústrias de base florestal, em parte do comércio grossista de materiais da floresta e na atividade dos sapadores florestais. Nesse ano – o último sobre o qual existe, à data, informação oficial – só a silvicultura e a indústria florestal somam mais de 95,48 mil pessoas empregadas, mais 9781 do que acontecia em 2016.
Contudo, os valores divulgados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística (para número de empresas e pessoal ao serviço) e pelo Pordata para os indicadores relacionados com a floresta apresentam apenas parte da realidade deste sector. Não incluem os dados das pessoas ao serviço das empresas de comércio grossista e retalhista de papel, cartão ou mobiliário, nem a informação relativa a outras atividades, como a apanha e venda de produtos florestais não lenhosos (ervas aromáticas ou cogumelos) ou as culturas de frutos de casca rija, por exemplo. Estes dados encontram-se dispersos em estatísticas de outras áreas e estão muitas vezes inacessíveis para consulta.
Por exemplo, no comércio de produtos florestais, os últimos valores consolidados são relativos a 2016 e apontavam para 25580 empregos, segundo a síntese económica disponibilizada pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. De acordo com este documento, havia quase 8,5 mil empregos no retalho de mobiliário, perto de 4,9 mil no comércio por grosso de madeira em bruto e produtos derivados, cerca de 6 mil empregos no comércio por grosso de cortiça e outros produtos não lenhosos e outros 6 mil no comércio por grosso de papel, cartão e seus artigos.
Acresce que, num sector em que o perfil de trabalho, em especial o trabalho rural, é frequentemente sazonal e informal, muito do emprego florestal permanece como atividade ocasional, de apoio ao rendimento familiar, complementar a outras ocupações e, muitas vezes, sem registo. O conjunto de dados disponibilizados nas estatísticas oficiais é, por isso, apenas uma parte da real empregabilidade florestal.
Quanto à representatividade das empresas do sector, verifica-se situação similar, com várias áreas de atividade a ficarem de fora das estatísticas florestais.
As indústrias de base florestal totalizavam, em 2022, 9896 empresas (0,68% de todas as empresas portuguesas), quase uma centena mais face ao ano anterior. Seguia-se a silvicultura e exploração florestal, responsável por 7971 empresas em 2022 (0,55% do total), a registar uma descida de cerca de meia centena relativamente ao ano anterior. O comércio fecha este ‘triângulo da floresta’, com os dados disponíveis sobre a atividade grossista de madeira e de cortiça em bruto a totalizar 1674 empresas em 2022.
No total e considerando os dados disponíveis, a economia da floresta estava assente, em 2022, em 19541 empresas, ou seja, cerca de 1,34% do tecido empresarial
Indústria: menos empresas, mais emprego florestal
É nas indústrias de base florestal que se concentra a maioria do emprego florestal e das empresas do sector. Em 2022, estas indústrias eram constituídas por perto de 10 mil empresas que tinham ao serviço 78,6 mil pessoas. Em proporção, empregavam 76,3% das pessoas ao serviço no sector florestal e representavam metade das empresas.
De 2016 a 2019, a evolução do número de empresas das indústrias de base florestal manteve-se relativamente constante – entre as 9900 e as 10 mil – com o máximo alcançado antes da pandemia de Covid-19, a que se seguiu uma quebra em 2020 e uma recuperação ligeira em 2021 e 2022.
Mais positivo foi o incremento nos números do emprego florestal industrial: excetuando uma contração em 2020, o número de pessoas ao serviço destas indústrias aumentou todos os anos e, em 2021 e 2022, subiu acima do que havia sido registado antes da pandemia (de acordo com os dados do Sistema de Contas Integradas das Empresas do INE para dados de empresas e pessoal ao serviço das empresas no sector em Portugal).
Em termos geográficos, a região Norte e a região Centro contam com, respetivamente, 5674 e 2232 empresas industriais. Juntas, estas duas regiões representam quase 80% das indústrias de base florestal.
Sabe-se, no entanto, que estas indústrias – que englobam pasta e papel, cortiça, madeira e mobiliário (excluindo o fabrico de colchões) – agregam subsectores com realidades bastante diferentes. Uma análise mais detalhada a cada um destes subsectores dá conta de que, em 2022, a maioria dos empregos e empresas residia nas indústrias ligadas ao mobiliário, com 34343 empregos em 4418 empresas. Seguia-se a indústria da madeira, com 21778 empregos em 4113 empresas.
De destacar o subsector da Pasta e Papel que, com 562 empresas, empregava quase 14 mil pessoas (de acordo com os dados do pessoal ao serviço, do INE), uma relação que traduz a maior dimensão das empresas nesta atividade. Também as empresas da área da cortiça apresentam um elevado número de pessoas ao serviço (8549) em comparação com o número de empresas deste subsector (803).
Silvicultura: mais emprego, maior proteção da floresta
A criação de valor nas florestas – com a consequente criação de empregos – é essencial para a proteção do território. O despovoamento das áreas rurais e o progressivo abandono da floresta originaram extensas áreas que carecem de gestão e apresentam elevado risco de propagação de incêndio.
Aumentar a rentabilidade da floresta e o valor das atividades florestais permite contrariar a tendência de abandono rural e trazer novas oportunidades de desenvolvimento a estas regiões.
Apesar de, entre 2004 e 2021, cerca de 14 mil postos de trabalho se terem perdido nas atividades primárias e transformadoras do sector florestal, certos subsectores têm conseguido inverter a tendência e dar mostras de dinamismo no emprego criado. É o caso da silvicultura, que quase duplicou o número de empregos: passou de 9,1 mil para 16,9 mil.
Neste mesmo período, o emprego subiu ligeiramente no subsetor da pasta e papel (13,2 mil para 13,9 mil), mas nas restantes indústrias registaram-se quebras representativas: menos 10 mil pessoas ao serviço na indústria da madeira (31,8 mil para 21,8 mil), menos 7,5 mil na do mobiliário (41,8 mil para 34,3 mil) e menos 4,7 mil na da cortiça (de 13,3 mil para 8,6 mil).
Embora os dois anos de pandemia tenham afetado os números da silvicultura e exploração florestal, é visível uma ligeira recuperação e em 2022 mantêm um contributo valioso para o tecido empresarial e emprego ligado à floresta, com quase 8 mil empresas e de 16,9 mil postos de trabalho.
De frisar, no entanto, que o trabalho de silvicultura (assim como o trabalho agrícola) é muitas vezes sazonal e informal, pelo que estas estatísticas podem estar aquém da realidade no terreno.
Os empregos direta e indiretamente derivados da floresta não se esgotam na indústria, silvicultura, sapadores florestais e comércio. Atividades como a caça, a pesca, as culturas agroflorestais ou os serviços ambientais estão ligadas, em grande parte, aos ecossistemas florestais, demonstrando que o impacte e valor da floresta vai além do que tem sido formalmente indexado ao sector. Por exemplo, em 2022, estavam contabilizadas 314 pessoas ao serviço da caça, repovoamento cinegético e atividades dos serviços relacionados, a aquicultura em água doce tinha 52 pessoas dedicadas e as culturas de frutos de casca rija davam emprego a perto de 6,5 mil. Adicionalmente, o emprego em atividades de gestão e proteção do ambiente nas empresas das indústrias da madeira, cortiça e da pasta e papel representavam mais de 230 postos de trabalho.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.