O aumento da temperatura tem impactos directos no sistema climático, na regulação de ecossistemas e na vida humana. Estabilizá-la, urgem os cientistas, significa travar de imediato as emissões de GEE.
Na histórica Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2016, em Paris, 196 países desenharam uma linha-limite para a manutenção do modo de vida actual na Terra, comprometendo-se a conter o aumento da temperatura média global até aos dois graus Celsius comparativamente a níveis pré-industriais, com mira nos 1,5 graus. Nesse ano assistiu-se à maior subida da concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera até então, relatou mais tarde a Organização Mundial de Meteorologia (OMM).
“Hoje em dia temos um conhecimento profundo das trajectórias para podermos estabilizar a temperatura terrestre nos 1,5 graus, mas elas pressupõem uma clara diminuição das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e nós estamos a viver num mundo completamente em oposição a isso”, reflecte Pedro Matos Soares, investigador do grupo de Alterações Climáticas do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (IDLCC-FCUL).
Estamos em 2023 e ainda alguns pontos abaixo do tecto definido para a temperatura, mas já há muito que passámos o nível de emissões consideradas pela comunidade científica como seguras para a vida na Terra. Quem nasceu na altura em que se ultrapassaram as 350 partes por milhão (ppm) de CO₂ na atmosfera tem hoje 37 anos. O valor foi subindo desde então, à excepção de 2020, que registou reduções na ordem dos 7%.
Em Junho, o Observatório de Mauna Loa, no Havai, registava 424 ppm de CO₂ na atmosfera. De certa forma, vivemos num tempo sem precedentes para a vida do planeta. Durante milhares de anos, a atmosfera terrestre manteve níveis de dióxido de carbono relativamente equilibrados, sempre abaixo dos 350ppm – as condições nas quais “a civilização humana se desenvolveu e às quais a vida na Terra está adaptada”, descreveu o reputado climatologista James Hansen.
Num relatório de Maio deste ano, a OMM indica que há uma probabilidade de 66% de o planeta ultrapassar os 1,5 graus entre 2023 e 2027, à escala anual. Pedro Matos Soares explica, porém, que este dado não rejeita per se o cumprimento do Acordo de Paris. “É preciso ter em conta que o sistema climático tem muita variabilidade, portanto, quando falamos nos 1,5 ou nos dois graus, estamos a falar em escalas de tempo de 30 anos, em média, e não de um ano”, explica.
Se olharmos para a média da temperatura global dos próximos cinco anos, […]