A guerra na Ucrânia provocou uma quebra de 10 a 15% nas vendas de vinho verde para aquela zona de Europa, que eram importantes mercados, mas países vizinhos compensam as perdas, segundo um dirigente do setor.
“Há países vizinhos que estão a crescer nas compras e, provavelmente, depois revendem para a Rússia”, contou hoje à agência Lusa Rui Pinto, da direção da Cooperativa Agrícola de Felgueiras e da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.
No caso concreto da cooperativa de Felgueiras, uma das maiores da região, os mercados russo e ucraniano eram, antes da guerra, importantes importadores, representando mais de 40% das vendas para o estrangeiro, o que mudou com o início do conflito, obrigando aquele produtor a encontrar alternativas.
Além dos países vizinhos da Rússia, contou, foi acelerado o trabalho de abertura dos mercados asiáticos, onde os ganhos já são significativos.
Rui Pinto explica que Hong Kong, Singapura e Vietnam são países que têm comprado vinho verde, destacando que se trata de mercados com “grande poder de compra”, que procuram vinhos de qualidade, com “castas diferenciadas”, como o azal ou loureiro, desta região.
Nesse sentido, avançou à Lusa, vários verdes monocastas estão a ser preparados em Felgueiras, com base na campanha de vindimas deste ano, que já terminou.
Essa tendência, aliada à evolução do mercado internacional noutros domínios, que procura vinhos cada vez mais leves, frescos e com menor teor alcoólico, é uma vantagem competitiva para os vinhos verdes, face aos maduros, de acordo com o dirigente.
O setor tem feito um esforço grande para adaptar os seus produtos a uma “procura cada vez mais exigente”, do lado da produção, com menor uso de pesticidas, nas vindimas, com maior mecanização, mas também na investigação em laboratório para obter “vinhos diferentes, fabulosos, mais refinados”, como produtos “sem gás e biodinâmicos”, entre ouros.
As mudanças climáticas, que são cada vez mais evidentes no Entre Douro e Minho, como assinalou, representam outro desafio.
Como exemplo, referiu que, há duas décadas, a maioria das participações aos seguros tinha a ver com as geadas, atualmente já quase não ocorrem essas situações e os sinistros participados são escaldões e incêndios nas vinhas, devido a verões mais secos e prolongados.
“Isto está mesmo a mudar”, acentuou, recordando que os viticultores do Douro, mas também nos verdes, têm procurado terrenos com maior altitude para produzir vinhos mais leves.
Por outro lado, as vindimas são também cada vez mais precoces. Este ano, Felgueiras começou a campanha no dia 6 de setembro, “algo nunca visto”, afirmou, admitindo que o setor do vinho verde assiste a uma “pequena revolução”.
Outro exemplo, prosseguiu, é o facto de os grandes produtores de outras regiões do país, como o Alentejo, Ribatejo ou Douro, estarem a comprar ou alugar terrenos neste território para produzirem vinhos verdes.
Essa circunstância, defendeu, diz bem do potencial de crescimento que encontram neste produto, por haver ainda, nomeadamente, “muitos mercados no mundo por explorar e para onde crescer no volume de vendas”.