A Confederação Agrária da Ucrânia diz que, no contexto do conflito com a Rússia, “cultivar milho e trigo já não é rentável” e alerta que muitos produtores estão a abandonar a atividade.
As forças russas têm mantido constantes ataques contra as principais rotas de exportação de cereais ucranianos e, com a guerra, os custos logísticos, por exemplo de transporte e seguros, tornaram-se proibitivos.
“Sabíamos que para muitos as coisas estavam mal, mas não esperávamos que um terço de todos os produtores teriam de deixar o setor”, disse à agência espanhola EFE Pavlo Koval, diretor da Confederação Agrária da Ucrânia.
Os pequenos produtores são os mais afetados, já que as grandes empresas contam com maiores “almofadas financeiras” para sobreviver a este conturbado período.
Porém, alerta o responsável, se as coisas continuarem na mesma no próximo ano também os maiores produtores irão sentir efeitos “críticos”.
A manter-se o atual contexto de pressão sobre os produtores, Pavlo Koval antecipa que mais 10 a 20 por cento abandonem a atividade até final do ano.
Antes uma grande exportadora de cereais, com 70 milhões de toneladas anuais canalizadas para o estrangeiro, a Ucrânia vive atualmente uma situação atípica.
A ofensiva russa, desencadeada em 24 de fevereiro de 2022, obrigou também à mobilização dos homens ucranianos para a guerra, diminuindo a mão de obra agrícola.
Desde que em agosto se abriu um novo corredor no mar Negro, depois de Moscovo ter abandonado o acordo patrocinado pelas Nações Unidas, saíram do porto de Odessa115 navios carregados de cereais, capacidade muito abaixo de suprir as necessidades de exportadores e consumidores.
Desde julho, exportaram-se 11 milhões de toneladas através desse corredor, por via marítima e terrestre, cerca de 30 por cento menos do que durante o mesmo período do ano passado.
Por outro lado, a redução das exportações obriga a reforçar a capacidade de armazenamento dentro da própria Ucrânia, o que limita o espaço disponível para as próximas colheitas.
Acresce que “alguns silos foram destruídos pela Rússia e outros permanecem ocupados”, assinala Koval.
A 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou uma ofensiva militar na Ucrânia, que causou, de acordo com das Nações Unidas, a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e um elevado número de vítimas, militares e civis, impossíveis de contabilizar enquanto o conflito decorrer.
A invasão da Ucrânia – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para Kiev e sanções políticas e económicas contra Moscovo.