Os peritos responsáveis por aplicar o acordo para exportação de cereais pelo Mar Negro não alcançaram um consenso sobre as movimentações de novos navios, informou hoje a ONU, que mantém a confiança nas negociações e na continuidade da iniciativa.
“Esperamos conversas construtivas e francas com todas as partes para superar os problemas e trabalhar para a continuidade e plena implementação da iniciativa”, disse Farhan Haq, porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU), durante um ‘briefing’ à imprensa em Nova Iorque.
Nas últimas semanas, a ONU alertou repetidamente sobre as dificuldades na aplicação do acordo que facilita as exportações agroalimentares ucranianas através dos seus portos do Mar Negro, bloqueados pela Rússia desde o início da invasão, em fevereiro do ano passado.
Segundo Farhan Haq, os peritos que integram o Centro de Coordenação Conjunta – órgão estabelecido em Istambul e responsável por aprovar e fiscalizar os navios participantes na iniciativa – não chegaram hoje a um consenso para autorizar novas embarcações.
O trabalho de inspeção, entretanto, continuou em navios que haviam sido previamente autorizados, disse o porta-voz.
A Ucrânia acusou a Rússia de colocar recentemente todo o tipo de obstáculos à passagem de navios e Moscovo ameaçou colocar um fim no acordo, que, segundo as autoridades russas, só é válido até 18 de maio, a menos que haja um acordo para a sua prorrogação.
Para o efeito, estava prevista para hoje em Istambul uma reunião a nível técnico com representantes das quatro partes signatárias do acordo firmado no verão passado: Ucrânia, Rússia, Turquia e ONU. Esta reunião seria preparatória de um encontro de alto nível previsto para a próxima semana.
Paralelamente, a secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan, reuniu-se hoje em Moscovo com representantes do Governo russo.
Segundo a ONU, o objetivo desta deslocação de Grynspan era discutir a necessidade de prolongar o acordo sobre os cereais da Ucrânia, mas também abordar as exportações russas de alimentos e fertilizantes, compromisso que Moscovo diz não estar a ser cumprido.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já enviou a Moscovo e às outras capitais uma proposta escrita para expandir e alargar o pacto, mas até ao momento não recebeu resposta do Kremlin, disse também hoje Farhan Haq.
O acordo foi assinado inicialmente por um período de 120 dias e depois foi renovado por um segundo período similar até 18 de março. Nessa altura, a Rússia decidiu impor um novo período de renovação, de apenas 60 dias.