Trabalhadores da indústria da cortiça concentram-se esta quarta-feira junto à sede da Corticeira Amorim em protesto contra a alegada pressão que essa empresa vem exercendo sobre outros empregadores para impedir aumentos salariais no setor, revelou hoje fonte sindical.
A informação é avançada à agência Lusa pelo presidente do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, que diz representar “cerca de 6.000” dos 8.000 trabalhadores do setor e, tal como a Amorim, tem sede no concelho de Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto.
O protesto prende-se com o novo contrato coletivo de trabalho, que, na indústria da cortiça, vigora de 01 de junho a 31 de maio e, segundo Alírio Martins, está a ser negociado desde abril, com o sindicato a propor aumentos de 1,46 euros no subsídio de alimentação e 72 euros no salário mensal, enquanto a estrutura representativa do patronato se fica pelos 21 cêntimos nas refeições e por 36 euros nos salários até dezembro e 60 nos restantes.
“Alguns empregadores dão-nos a entender que é a Amorim que não permite o aumento e já teríamos chegado a acordo se não fosse a pressão que esse grupo exerce sobre outras empresas para não as deixar aceitar os nossos valores”, declara o presidente do sindicato.
A meta sindical é que o salário dos corticeiros passe a “perfazer 1.000 euros brutos mensais” e o seu subsídio de alimentação chegue aos sete euros por dia, no que os trabalhadores precisam do aval da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), cujo universo de 230 empresas associadas representa 80% da produção nacional dessa matéria-prima e 85% das exportações do setor.
“A APCOR diz que o setor está em crise, mas as empresas continuam cheias de lucro e os trabalhadores é que estão a perder muito dinheiro comparativamente aos aumentos do Salário Mínimo Nacional”, afirma Alírio Martins.
Mesmo assim, o dirigente sindical diz que os operários estão dispostos a aceitar aumentos graduais, desde que partam de valores “acima dos 36 euros mensais” ou envolvam “atualizações mais altas no período de janeiro a maio de 2025”.
Contactada pela Lusa, a APCOR diz que “não faz comentários públicos sobre negociações do contrato coletivo de trabalho, que ainda estão a decorrer”.
Embora questionada especificamente sobre o assunto, a associação também não indica qual o volume de negócios das suas 230 associadas em 2023 nem comenta a alegada pressão contra os referidos aumentos alegadamente exercida pelo Grupo Amorim – que tem três empresas representadas nos órgãos sociais da APCOR, concretamente a Amorim Florestal S.A. na presidência da direção, a Amorim Cork Insulations S.A. na vice-presidência e a Amorim Cork S.A. na presidência da assembleia-geral.
A Lusa também pediu uma reação à própria Amorim, que recusou comentar o assunto.
A concentração de trabalhadores junto à sede da Corticeira Amorim, em Mozelos, está marcada para o período entre as 11:30 e as 13:00.
Segundo o Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, o protesto contará com outras estruturas sindicais e com trabalhadores de diferentes regiões do país.