Quase todo o país está em seca severa ou extrema e o cenário deverá intensificar-se nos próximos meses. O risco de incêndio também aumenta com as temperaturas elevadas e com a falta de humidade. É quase uma “tempestade perfeita”.
Vem aí um Verão seco, com temperaturas acima do normal e com pouca chuva. É esta a previsão traçada para os próximos meses pelo chefe de divisão de clima e alterações climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Ricardo Deus. Por agora, este ano está já a ser o segundo mais seco desde 1931. Quando se fala em “ano” não falamos apenas de 2022, mas sim do “ano hidrológico”, que vai de Outubro de 2021 a Setembro de 2022.
Para a geógrafa Maria José Roxo, esta é quase uma “tempestade perfeita”: “Não temos condições naturais favoráveis, mas também estamos a gastar mais do que aquilo que devíamos”, diz, referindo-se à falta de água. “E temos de mudar este comportamento, isso é crucial para o futuro.”
Nos meses de Agosto e Setembro, é também possível que a quantidade de precipitação fique abaixo do normal, essencialmente na região Norte e Centro, diz Ricardo Deus. “O que se espera é um Verão muito seco e com temperaturas acima do normal”, sintetiza. Ainda que seja comum haver pouca chuva nos meses de Verão, grande parte do “problema” está ligada aos baixos níveis de precipitação no Inverno. “Este ano temos uma seca porque não choveu no Inverno e devia ter chovido”, resume também Maria José Roxo, especialista em seca e desertificação.
Mais de 96% do território continental português está em seca severa (67,9%) ou seca extrema (28,4%) e só 3,7% do território está em seca moderada, de acordo com os dados do IPMA de 30 de Junho. Com o tempo esperado, “será ‘normal’ que o índice de seca possa agravar-se durante os próximos meses”, analisa Ricardo Deus. Além da seca, espera-se também que estas temperaturas elevadas causem “desconforto térmico, com impactos mais significativos na população mais vulnerável”.
Nos meses anteriores já se registaram subidas de temperatura. O mês de Maio de 2022 foi o mais quente dos últimos 91 anos em Portugal e o mês de Junho foi “quente e seco”. A nível global, o mês de Junho de 2022 foi o terceiro Junho mais quente desde que há registos, segundo o Serviço de Alterações Climáticas do Copérnico.
Ao calor, junta-se a ausência de chuva. Segundo o IPMA, entre Outubro de 2021 e Junho de 2022 choveu só metade do que era expectável: a quantidade de precipitação acumulada foi de 416,1 milímetros, o que corresponde a 51% do “valor normal” – e faz com que este seja o segundo valor mais baixo desde 1931. “O normal seria, em média, termos registado praticamente o dobro da precipitação verificada”, explica Ricardo Deus. Por enquanto, o ano mais seco continua a ser o de 2004/2005.
O Verão adivinha-se igualmente seco. “Sabemos pelos estudos climáticos que estes […]