Entre 2 e 2,5 milhões de pessoas no Sudão estão em risco de fome nos próximos meses devido ao atual conflito entre o exército e os paramilitares, alertou hoje um responsável do Programa Alimentar Mundial (PAM), agência das Nações Unidas.
As dificuldades de acesso aos alimentos “podem levar a insegurança alimentar a níveis recorde num país onde a insegurança alimentar já afeta 19 milhões de pessoas, 40% da população”, disse Abdirahman Meygag, responsável do PAM no Sudão, numa conferência de imprensa para meios de comunicação social acreditados pela ONU, em Genebra.
O responsável do PAM, que falou por ligação telemática a partir de Porto Sudão, o atual centro de operações humanitárias do país, disse que o conflito pode afetar a atual época de plantação devido aos problemas de segurança nos campos, associados aos preços elevados das sementes e dos fertilizantes.
A plantação, em especial de sorgo, um dos principais cereais alimentares do Sudão, deveria ter começado este mês, mas os atuais problemas estão a atrasar ou a impedir a sua realização, o que “poderá levar a uma colheita abaixo do normal em setembro”, afirmou.
Apesar dos problemas, Meygag referiu que a ajuda humanitária do PAM está a aumentar gradualmente desde que foi retomada a 03 de maio (cerca de duas semanas após o início do conflito) e já chegou a 14 dos 18 estados do Sudão.
Até agora, conseguiu chegar a cerca de um milhão de pessoas, também em zonas de fortes hostilidades, como a capital, Cartum, ou a região ocidental de Darfur, embora o objetivo final do PAM seja chegar a 5,9 milhões no próximo semestre, explicou o responsável da organização da ONU.
Meygag sublinhou que entre os beneficiários da ajuda estão 170 crianças do orfanato de Mygoma, em Cartum, que foram recentemente transferidas após dezenas dos seus colegas terem morrido nas primeiras semanas do conflito.
“Numa situação de segurança que se deteriora rapidamente, é difícil para o PAM apoiar as famílias vulneráveis afetadas pelo conflito”, acrescentou, reiterando o apelo da agência para que as partes beligerantes ponham termo às hostilidades e facilitem a chegada da assistência humanitária em segurança.
O PAM pediu à comunidade internacional 407 milhões de dólares (cerca de 371 milhões de euros) para financiar as suas operações de assistência no Sudão este ano e calcula que os ataques às suas instalações durante o conflito tenham causado perdas de cerca de 89 milhões de dólares (cerca de 81 milhões de euros).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 1.073 pessoas morreram e 11.704 ficaram feridas desde o início dos combates no Sudão, em 15 de abril, entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares.
De acordo com os dados, que a OMS recebe do Ministério Federal da Saúde do Sudão, 230 destas mortes ocorreram na capital do país, onde pelo menos 3.508 pessoas ficaram feridas.
A porta-voz da OMS, Carla Drysdale, afirmou que apenas uma em cada cinco infraestruturas médicas está a funcionar corretamente em Cartum e referiu-se à insegurança com que se deparam os profissionais de saúde e os doentes na cidade.
A comissária Drysdale afirmou que 24,7 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária em todo o país, incluindo quatro milhões de crianças e mulheres grávidas ou lactantes que sofrem de subnutrição grave.
Antes do início do conflito, 3,7 milhões de pessoas já se encontravam deslocadas internamente no Sudão, sobretudo na região ocidental de Darfur, número a que se juntaram agora mais 2,2 milhões de pessoas.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 528.000 pessoas atravessaram as fronteiras do Sudão nos últimos dois meses para fugir do conflito como refugiados.