O cientista Rattan Lal, professor de Ciência dos Solos, vê na terra a solução para minimizar as alterações climáticas mas avisa que um solo degradado torna-se fonte de gases com efeito de estufa em vez de os absorver.
Rattan Lal é natural da Índia, fez investigação em África muitos anos e atualmente é professor na Universidade de Ohio, Estados Unidos. É hoje um dos galardoados com o Prémio Gulbenkian para a Humanidade 2024, no valor de um milhão de euros.
O prémio, que este ano distingue a agricultura sustentável, foi atribuído em conjunto também ao programa “Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming” que na Índia promove as práticas sustentáveis junto dos agricultores, e à plataforma de organizações não-governamentais SEKEM, do Egito, que promove abordagens integradas de combate às alterações climáticas.
Em entrevista à Agência Lusa em Lisboa, onde se deslocou para receber o prémio, Rattan Lal alerta que solos degradados ou com má gestão tornam-se fonte de gases com efeito de estufa mas disse que a terra não tem de ser uma grande fonte desses gases e que, ao contrário, pode ser um repositório, sendo esse o objetivo do seu trabalho.
“Estou a tentar encontrar uma solução terrestre positiva para a natureza, tendo em conta questões ambientais, incluindo as alterações climáticas e a segurança alimentar. Como tornar a agricultura uma parte da solução” das alterações climáticas, voltando a colocar no solo o dióxido de carbono que foi para a atmosfera, explica.
A solução parece simples mas nem sempre é entendível, pelo que Rattan Lal defende mais educação e formação, que deve começar pelas crianças. A mensagem básica é a de que a saúde humana depende de um solo saudável.
“O solo é fonte de alimento mas também pode ser um sumidouro de gases com efeito de estufa” e não apenas de dióxido de carbono, diz.
“Se fizermos uma melhor agricultura é possível absorver cerca de 25% da função antropogénica na terra. Ou até mais, com uma melhor gestão. Portanto a terra pode tornar-se uma solução e é esse conceito que faz parte deste prémio”, adiantou.
Fazer da agricultura parte da solução para as alterações climáticas é também uma questão política, com o professor a lembrar que nos Estados Unidos há por exemplo leis de proteção da água ou do ar mas não uma legislação para o solo saudável. “E sem ele não é possível ter água limpa ou ar limpo”.
É importante, frisa, haver uma lei que proteja os solos, que proteja o carbono da terra mas também que incentive os agricultores que os motive e recompense por fazerem uma agricultura sustentável.
Para Rattan Lal, o objetivo não deve grandes produções, deve ser “produzir mais alimentos com menos terra, menos água, menos pesticidas, menos fertilizantes, e menos químicos”.
Questionado pela Lusa sobre o regadio, Rattan Lal não critica o facto de haver no mundo 3,5 milhões de hectares de terras irrigadas mas sim a água que se gasta, o desperdício que é a irrigação por inundação em vez de rega gota a gota.
Essa é uma das melhorias a fazer até 2050, como a de integrar árvores, culturas e gado, como a de investir na agricultura urbana, nas estufas com menos meios, na aquacultura, na hidroponia, na cultura em areia, e sem tantos pesticidas e outros produtos químicos.
Diz o professor que uma cidade com 10 milhões de pessoas precisa de 6.000 toneladas de alimentos por dia, e que 10% a 15% desses alimentos podem ser produzidos no limite da cidade. “Isso seria um ótimo planeamento urbano. Atualmente não é assim”.
Otimista, Rattan Lal diz que com a ajuda da ciência “há muitas coisas boas que podem ser feitas”.
E com o prémio de hoje também, como promover a investigação e levar novas práticas agrícolas a mais pessoas.
Da sua parte diz sentir-se “honrado, privilegiado e afortunado” por o prémio permitir a mais população saber “que os solos podem ser uma solução” no combate ao aquecimento global.