A antiga chanceler alemã Angela Merkel, presidente do júri do Prémio Calouste Gulbenkian para a Humanidade, alertou hoje em Lisboa para o aumento de frequência e intensidade das alterações climáticas e destacou a ligação com a degradação dos solos.
“Estamos a sentir muito concretamente, como acontece praticamente em todo o mundo, que os efeitos negativos das alterações climáticas são imensos e estão a aumentar em frequência e intensidade”, disse a responsável numa cerimónia, na Fundação Gulbenkian, para anunciar os vencedores do Prémio, de um milhão de euros, este ano para a área da agricultura sustentável.
Por esse motivo Angela Merkel citou um relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla original) de 2019, que confirma a ligação entre as alterações climáticas, o aumento da desertificação e a degradação dos solos.
O aquecimento global irá piorar a situação e afetar a segurança alimentar, disse citando o documento, acrescentando que medidas de combate à desertificação e de gestão sustentável dos solos podem evitar a degradação desses solos e contribuir para a adaptação às alterações climáticas.
A importância dos solos, a agricultura sustentável e práticas que tenham em conta que o solo é um organismo vivo mereceram este ano o Prémio Gulbenkian para a Humanidade, em quinta edição, sendo o valor do mesmo repartido pelo programa “Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming” da Índia, pelo professor e especialista em solos Rattan Lal, natural da Índia mas que vive nos Estados Unidos, e pela organização SEKEM, do Egito, que promove a agricultura sustentável.
Ao professor e aos representantes das organizações indiana e egípcia Angela Merkel agradeceu o trabalho, que considerou “uma inspiração e um modelo global para a agricultura sustentável e a gestão do solo em regiões com condições difíceis”.
António Feijó, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, fez também uma referência à necessária ligação com a natureza, ao discursar na cerimónia, quando recordou o criador da Fundação, Calouste Gulbenkian.
Gulbenkian, quando viveu em Lisboa, gostava de passear pelo parque de Monsanto, descalçava-se para sentir a erva, disse, concluindo que decerto não se surpreenderia que a Fundação distinguisse pessoas e organizações que procuram preservar “práticas e gestos que, durante séculos” mantiveram a Terra habitável.
Foi dessas práticas e gestos que os vencedores do prémio deste ano falaram depois, considerando que através do solo há uma solução para as alterações climáticas.
O prémio Calouste Gulbenkian para a Humanidade, que distingue contribuições excecionais e soluções para combater as alterações climáticas, recebeu para a edição de 2024 um número recorde de inscrições, com 180 nomeações de todo o mundo.
O prémio distingue contribuições excecionais para a ação climática e soluções climáticas que inspiram esperança e novas possibilidades.