“A agricultura, como os outros setores, também contribui para as próprias alterações climáticas. A mobilização do solo, o uso de combustíveis fósseis e a decomposição da matéria orgânica do solo contribuem para a emissão de CO2 [dióxido de carbono] que promove o efeito de estufa”, indicou, em resposta à Lusa, a docente do Instituto Superior de Agronomia (ISA) Cláudia Cordovil.
De acordo com a especialista, este composto químico, por sua vez, promove o aumento da temperatura média, sobretudo nas regiões mais áridas.
A alteração do uso do solo, a desflorestação, os fogos e más práticas de gestão do solo “têm contribuído para a degradação da sua qualidade, nomeadamente com o aumento da erosão que, por sua vez, aumenta a emissão do CO2 e os impactos associados”.
Cláudia Cordovil notou ainda que, “em virtude da alteração e incerteza dos padrões climáticos com o aumento da temperatura média e a diminuição da precipitação total e a ocorrência de episódios erráticos de precipitação, todo o paradigma da produção agrícola terá que ser alterado para permitir continuar a produzir”.
O grande desafio vai passar assim a ser “produzir mais, com menos recursos e em condições mais desfavoráveis, diminuindo simultaneamente os gases com efeito de estufa”.
A produção agrícola tem assim que se adaptar para “ultrapassar as pressões e reduzir a pegada de carbono medida através da emissão direta de gases para a atmosfera que dão origem às alterações climáticas.
Segundo a professora do ISA, para atingir o objetivo apontado existem duas estratégias diferentes com o mesmo propósito: a adaptação e a mitigação.
Enquanto a mitigação constitui ações “que visam reduzir as perdas e, portanto, os fatores que originam as alterações climáticas”, a adaptação é “o ajustamento para criar condições mais favoráveis e económicas, através da alteração ou modificação dos processos para permitir adaptar às novas condições”.
Para a especialista, a adaptação “é um caminho a seguir”, tendo em conta que o progresso na redução das emissões globais “é mais reduzido do que desejável, as emissões de CO2 aumentam rapidamente, mas de uma forma não linear, a temperatura continua a aumentar e a precipitação é cada vez mais errática”.
A adaptação da agricultura às alterações climáticas prevê ainda “fazer face à vulnerabilidade das culturas, à variação dos parâmetros climáticos, reduzir a sensibilidade dos sistemas agrícola e aumentar a resiliência dos mesmos”.
Cláudia Cordovil indicou também que as melhores ferramentas para se atingir um nível satisfatório de adaptação passam pela mudança da gestão das culturas, uma nova calendarização de operações, novos métodos de rega, aumento da eficiência dos nutrientes aplicados via fertilizantes, uma estratégia de sequestro de carbono, o uso de resíduos orgânicos para fertilizar as culturas e melhorar as características do solo.
Por outro lado, é igualmente importante “a criação de novas variedades mais resilientes, de variedades com capacidade de associações simbióticas que permitam a absorção de nutrientes e resistir a situações de toxicidade”.