Ao longo dos últimos três anos de seca na Península Ibérica, cerca de 1700 sítios arqueológicos emergiram das albufeiras secas, segundo dados do Ministério da Cultura e do Desporto de Espanha.
A seca que assola a Península Ibérica tem trazido oportunidades e preocupações para o domínio da arqueologia. Em 2019, por exemplo, a albufeira de Valdecañas, na província de Cáceres, atingiu mínimos históricos em termos de massa de água, deixando a nu o dólmen de Guadalperal. A circunstância permitiu que uma dupla de arqueólogos desenvolvesse um projecto aprofundado de prospecção do conjunto de menires com cerca de sete mil anos, também conhecido como o Stonehenge espanhol.
“As albufeiras ‘encapsularam’ a imagem dos territórios onde foram realizadas [barragens] nos anos 1960 e 70, oferecendo valiosas referências arqueológicas. Para fazer face ao seu estudo, várias entidades têm de chegar a acordos devido à complicação que estes procedimentos requerem relativamente à propriedade das diferentes áreas submersas. O trabalho em Valdecañas foi possível graças a esse consenso”, explicou ao PÚBLICO Primitiva Bueno Ramírez, professora catedrática de Pré-história na Universidade de Alcalá de Henares, na Espanha.
Face às previsões de seca persistente, uma comissão constituída pelo Ministério da Cultura e do Desportos de Espanha, pela Junta de Estremadura e pela Confederação Hidrográfica do rio Tejo confiou a Primitiva Ramírez e a Enrique Cerrillo Cuenca, da Universidade Complutense, o projecto de investigação arqueológica do dólmen de Guadalperal. A escolha recaiu sobre a dupla, diz a cientista espanhola, uma vez que ambos haviam trabalhado com dólmenes submersos em zonas pantanosas do Tejo.
Primitiva Ramírez defende que, em termos de crise climática, o consenso entre os diversos poderes administrativos “deve ser estabelecido como uma acção sustentada no tempo, dada a previsão de seca que paira sobre os países do Sul da Europa”. Só assim é possível aos cientistas desenvolver um trabalho estruturado, com diferentes objectivos, como o que foi levado a cabo no sítio arqueológico de Valdecañas.
Seca emerge 1700 sítios arqueológicos
Um trabalho do diário espanhol El País adianta que, ao longo dos últimos três anos de seca hidrológica na península, cerca de 1700 sítios arqueológicos emergiram, segundo dados do Ministério da Cultura e do Desporto de Espanha.
Grande parte desse património era então desconhecido e, para salvaguardá-lo dos saqueadores, a localização exacta não é divulgada, mas já foi compilada num banco de dados governamental, refere o jornal espanhol. Se, por um lado, a seca hidrológica abre novas possibilidades arqueológicas, por outro traz preocupações relacionadas com o saque de património histórico.
“Quando chegamos ao reservatório de Iznájar [entre Córdoba, Málaga e Granada], os saqueadores já o haviam pilhado. E ninguém sabia da sua existência”, afirmou ao El País Ángel Villa, coordenador do Plano Nacional de Arqueologia de Espanha.
Esperanza Martín Hernández, que […]