A doença denominada fogo bacteriano, que está a causar elevados estragos nos nossos pomares de pereiras e macieiras, foi reportada pela primeira vez nos EUA em finais do século XVIII, vindo-se a descobrir em 1880 que era causada pela bactéria Erwinia amylovora.
A referida doença tem-se vindo a expandir por todo o mundo, tendo sido observada em 1957 pela primeira vez na Europa, designadamente em Inglaterra, e em 2006 em Portugal, quando no Fundão foram detetados dois focos de pereiras e macieiras; passados quatro anos, a doença surgiu na região Oeste, onde se tem vindo a expandir a ponto de infetar completamente alguns pomares, que consequentemente têm vindo a ser arrancados.
Não estando autorizado na UE o tratamento com qualquer produto fitofarmacêutico, vários investigadores portugueses têm vindo a debruçar-se sobre o tema, estando em curso diversos estudos com vista ao controlo da doença.
Este esforço é sem dúvida muito louvável, mas seria talvez também interessante que, entretanto, os decisores políticos de Bruxelas tivessem em atenção o facto de o país cientificamente mais avançado do mundo já ter aprovado diversas substâncias que permitem controlar o fogo bacteriano em pomóideas.
Entre as substâncias autorizadas nos EUA importa referir alguns biopesticidas, com destaque para o sulfato de potássio e alumínio, que na UE se encontra em avaliação, exceto na Áustria e na Alemanha que beneficiam de uma autorização temporária. Note-se que na vizinha Suíça o aludido sulfato de potássio e alumínio já está autorizado.
Na minha modesta opinião e pelo conhecimento direto que tenho da região Oeste, creio que seria altamente vantajoso que os nossos fruticultores fossem autorizados, quanto antes, a aplicar o supramencionado biopesticida, eventualmente a título temporário, com vista à contenção da referida doença, a qual põe em causa as duas principais culturas do Oeste, sendo a pereira Rocha particularmente suscetível ao fogo bacteriano.
A propósito do que precede, recordaria que em 2023 a Universidade do Estado de Washington apresentou um estudo realizado entre 2013 e 2022, em 16 campos de ensaio, localizados em 4 Estados, o qual revelou a existência de três biopesticidas (entre os quais o aludido sulfato de potássio e alumínio) que conseguiram um elevado controlo do fogo bacteriano em macieiras.
A terminar, recordo que em Portugal já se registaram dois problemas fitossanitários particularmente gravosos: entre 1840 e 1860, um inseto conhecido como “devorista das laranjeiras”, foi responsável pela aniquilação da produção de laranja nos Açores, até então destinada à exportação e que tinha enriquecido a população açoreana em geral, durante mais de cem anos; na década de 1860 o Continente foi o segundo país europeu a ser invadido pela filoxera, inicialmente nas vinhas do Douro, mas que depois se viria a alastrar ao resto do país (sobreviveram a esta praga as vinhas de Colares, porque estavam plantadas em solo arenoso, que se revelou desfavorável à penetração do terrível inseto), tendo sido encontrada como solução a enxertia em raízes resistentes de videiras americanas nativas, tendo-se assim finalmente erradicado com grande esforço a filoxera no final dos anos 1980.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.
Sobre a sustentabilidade da produção de alimentos – O exemplo do frango de carne