A associação ambientalista Quercus exigiu hoje a “intervenção imediata” das autoridades depois do aparecimento de uma quantidade perigosa de cianobactérias nas águas da barragem do Maranhão, em Avis (Portalegre).
Em comunicado enviado à agência Lusa, o Núcleo Regional de Portalegre da Quercus “exige a intervenção imediata” das autoridades, de modo a que situação seja “rapidamente analisada” e possam ser determinadas as causas do fenómeno.
Os ambientalistas apelam ainda, como medida de prevenção e até que existam conclusões relativamente às análises, que as autoridades impeçam o acesso público aos locais de concentração das cianobactérias, pelo perigo que podem representar.
“A Quercus relembra também que, ao longo dos últimos anos, foram instalados milhares de hectares de olival intensivo e superintensivo nas margens da albufeira do Maranhão, pelo que insta as entidades competentes a estudar uma eventual relação causa – efeito entre esta instalação e o fenómeno que está a ocorrer, dado que a proliferação de cianobactérias pode ter origem em processos de eutrofização, devido ao excesso de nutrientes que são utilizados na agricultura”, lê-se no comunicado.
A água da barragem do Maranhão tem uma quantidade perigosa de cianobactérias, que pode chegar a ser fatal para o gado, situação que está a preocupar a autarquia, que ‘aponta o dedo’ ao olival intensivo.
No dia 16, Luís Teixeira, proprietário de um empreendimento turístico junto da albufeira, mostrou à Lusa fotografias e vídeos da água, com manchas azuis claras de um produto pastoso e não identificado. O responsável ‘culpa’ os olivais intensivos à volta da barragem, constantemente pulverizados com químicos que acabam por ir parar à água.
No mesmo dia, em declarações à Lusa, a vice-presidente da Câmara Municipal de Avis, Inês Fonseca, que tem o pelouro do Turismo, reconheceu que o que se está a passar é um problema e disse temer que a prática de desportos náuticos na albufeira seja interditada.
“A agricultura é importante, mas tem de se conseguir que todas as atividades sejam compatíveis”, alertou, salientando que o que está a acontecer coloca em causa os investimentos para a prática de desportos náuticos, como o remo, a canoagem, o triatlo ou a natação em águas abertas.
Garantindo que a câmara tem feito tudo para eliminar qualquer tipo de descarga para a albufeira e que todas as juntas de freguesia já têm estações de tratamento, Inês Fonseca assegurou que a autarquia tem falado com os agricultores, mas que estes negam estar na origem do problema.
Contudo, a vice-presidente da Câmara de Avis disse não ter dúvidas que o problema das cianobactérias surgiu com o aparecimento da agricultura intensiva, basicamente olival, que usa “muitos fertilizantes” que com a chuva acabam na água.
A delegação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) já confirmou a existência de cianobactérias (também conhecidas como algas azuis).
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge também fez análises à água retirada do meio da albufeira e o resultado foi o mesmo.
Uma bióloga escreveu, num documento a que a Lusa teve acesso, que “a concentração de microcistinas (a toxina de Microcystis aeruginosa) era de tal forma alta que mesmo com a diluição máxima não foi possível dosear”.
A especialista alertou que a massa de água “é potencialmente perigosa” e que para o gado, que bebe grande quantidade de água, pode ser letal, porque as microcistinas (toxinas produzidas por cianobactérias) são hepatotóxicas (produzem danos no fígado).
Inês Fonseca adiantou, igualmente, que a câmara também já contactou as autoridades de saúde.
Também contactado no dia 16 pela Lusa, o presidente da Associação de Regantes do Vale de Sorraia, José Núncio, admitiu que “a situação não é nova, infelizmente, e aparece com temperaturas altas e depois desaparece”.
“São as cianobactérias a desenvolver-se e dá aquele aspeto, e depois o vento empurra-as para as margens, no meio da albufeira não se vê”, afirmou.
José Núncio não negou, contudo, que o olival possa ser uma das origens do problema, mas lembrou que “são albufeiras antigas, que entram em processo de eutrofização”.
“São 67 anos de lodo e o olival leva pouca água”, disse.