O dirigente da Quercus Domingos Patacho defendeu hoje que os sobreiros que ainda não foram abatidos junto à Linha do Vouga devem ser poupados.
Domingos Patacho falava na Comissão de Ambiente e Energia da Assembleia da República, numa audição requerida pelo grupo parlamentar do Chega.
Em causa está o abate de sobreiros junto à linha ferroviária do Vouga, na freguesia de Macinhata do Vouga, concelho de Águeda, feito em março por iniciativa da Infraestruturas de Portugal, que teria sido autorizado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Na localidade de Jafafe, Macinhata do Vouga, no concelho de Águeda, a população chegou mesmo a colocar bandeiras nacionais nos sobreiros, para tentar evitar o abate que acabou por ser suspenso depois de um comunicado da Quercus a denunciar a situação.
Domingos Patacho, respondendo às perguntas dos deputados, admitiu como possível, mas estranho, que as marcações das árvores autorizadas a abater tenham desaparecido com o tempo de uns exemplares e não de outros.
Reforçou assim a ideia de que possam ter sido cortadas árvores que não estavam cintadas, isto é, autorizado o seu corte.
Já quanto a razões de segurança da linha férrea invocadas pela Infraestruturas de Portugal, lembrou que o edital de aviso de abate das árvores justificava-o com o risco de incêndio.
“A cortiça é um elemento de proteção do sobreiro contra o fogo, o que não acontece com o eucalipto”, observou.
Quanto à segurança da linha, para o dirigente ambientalista, seria simples ver as árvores que estavam a crescer inclinadas para a linha, sacrificando apenas essas e mantendo as outras, tanto mais que a população disponibilizou-se a fazer a poda das árvores, através da Junta de Freguesia.
Rita Matias, do Chega, admitiu a importância da ferrovia, nomeadamente para o combate às assimetrias, mas salientou que o abate de árvores ocorre “em contraciclo”, recusando que a falta de meios sirva para justificar que não se dê resposta aos anseios das populações.
“Os sobreiros abatidos terão sido documentados, mas não tivemos acesso a essa documentação”, lamentou, pedindo à Quercus que emita um parecer técnico acerca do argumento de que os sobreiros causam desequilíbrios à estabilidade dos taludes.
Rosa Venâncio, do PS, quis saber se depois do comunicado da Quercus de 27 de março o ICNF já teria feito a reavaliação e se o procedimento de verificação das árvores a abater fora cumprido.
António topa Gomes, do PSD, referiu que para as Infraestruturas de Portugal está em causa o risco de queda na linha e a segurança ferroviária, interesse que deve ser compatibilizado com a preservação do sobreiro como “a árvore nacional”.
“O que podemos ainda fazer para encontrar uma solução equilibrada e que medidas o ICNF devia tomar?”, indagou, admitindo que, quanto ao abate feito “pode estar tudo de acordo com a Lei, mas o resultado final não é satisfatório”.
“Uma mancha de cerca de 300 sobreiros é um património relevante”, salientou Inês Sousa Real, do PAN, referindo que está a ser ponderado o abate de dois sobreiros centenários, pelo que perguntou se não poderão ser transplantados.
Rui Tavares, do LIVRE, afirmou que “é preciso saber se o abate foi minimizado, se foi visto árvore a árvore”.
“Optando pela poda em vez do abate, cada árvore que se salvasse seria um valor em si, porque o sobreiro demora muitos anos a crescer”, comentou.