Rui Maia é consultor na Koppert e especialista em controlo biológico de pragas e doenças em culturas ornamentais. A sua larga experiência no setor ornamental é uma mais-valia para as dezenas de produtores aos quais a Koppert presta suporte técnico especializado.
Quais são as razões que levam os produtores de culturas ornamentais a adotar o controlo biológico?
As razões são diversas:
- Resistência das pragas aos produtos químicos: O uso excessivo de produtos químicos levou à resistência das pragas, tornando o controlo químico menos eficaz.
- Escassez de soluções químicas: Muitos produtos químicos estão a ser retirados do mercado, tornando necessário encontrar alternativas.
- Requisitos de mercado: Muitos mercados agora exigem a redução do uso de produtos químicos, tornando o controlo biológico uma opção mais atrativa.
- Custo comparável: Contrariamente à crença popular, o controlo biológico não é mais caro do que o controlo químico, e pode até resultar em economias a longo prazo.
- Saúde das plantas: O uso do controlo biológico reduz a exposição das plantas a substâncias químicas, tornando-as mais saudáveis e resistentes a pragas e doenças.
- Redução do risco de toxicidade: O controlo biológico minimiza o risco de toxicidade para as plantas, trabalhadores e meio ambiente.
- Eficiência 24/7: Os agentes biológicos, como ácaros, insetos, fungos e nemátodes, trabalham continuamente, dia e noite.
- Equilíbrio natural: Ao reduzir a necessidade de tratamentos químicos, o controlo biológico ajuda a estabelecer um equilíbrio entre presas e preda- dores.
- Benefícios para o ambiente e saúde humana: O controlo biológico cria um ambiente de trabalho mais seguro para os agricultores e produz produtos finais mais seguros e saudáveis para os consumidores.
- Necessidade específica: Em alguns casos, o controlo biológico é a única solução eficaz para com- bater certas pragas que se escondem em locais de difícil acesso.
Que conselhos daria a um produtor de flores e/ou plantas ornamentais que deseje iniciar o controlo biológico de pragas?
Alguns conselhos importantes são:
- Escolher o parceiro certo: Selecionar uma em- presa confiável que forneça agentes biológicos de alta qualidade de forma atempada e ofereça apoio técnico especializado.
- Análise de resíduos: Se possível, realizar uma análise de resíduos na cultura antes de iniciar um programa de proteção integrada.
- Equipamento dedicado: Adquirir equipamento de pulverização dedicado exclusivamente ao tratamento com controlo biológico para evitar contaminações cruzadas.
- Evitar produtos químicos incompatíveis: Evitar o uso de substâncias químicas como piretróides, carbamatos e organofosforados que podem prejudicar os agentes biológicos, e produtos de largo espectro ou sobre os quais não se conheçam os efeitos de toxicidade aguda ou residual.
- Vigilância ativa: Implementar metodologias de vigilância para detetar rapidamente quaisquer problemas.
- Práticas de trabalho seguras: Adaptar as práticas de trabalho, como a instalação de níveis nas estufas (criação de níveis de prioridade de entrada), a disponibilização de vestuário específico, portas duplas e redes nas janelas.
- Prevenção: Priorizar sempre a prevenção, pois a prevenção é mais eficaz e económica do que a correção de problemas após o seu surgimento.
Em quanto tempo se conseguem obter resultados consistentes com o controlo biológico? Há diferenças na produção em estufa e ao ar livre?
O tempo necessário para obter resultados consistentes com o controlo biológico pode variar bastante e depende de vários fatores. Isso inclui o estado inicial da cultura (se já está infestada ou não), o conhecimento técnico do agricultor, as práticas de cultivo, a monitorização regular, o momento certo para introduzir os agentes biológicos, a quantidade adequada desses agentes e que outros produtos, químicos ou de outro tipo, estão a ser usados em simultâneo.
Quanto à diferença entre a produção em estufa e ao ar livre, é importante notar que existem diferenças significativas. Numa estufa, as condições são controladas, o que pode acelerar tanto o desenvolvimento das pragas quanto dos agentes biológicos usados para com- batê-las. Por outro lado, apesar de nas culturas ao ar livre as condições ambientais serem mais variáveis e imprevisíveis, é possível obter sucesso com o controlo biológico desde que sejam adotadas estratégias adequadas.
Isso inclui o cuidado com o uso de tratamentos fitossanitários e a criação de ambientes ecológicos favoráveis. Por exemplo, plantar certas espécies vegetais que atraiam agentes biológicos benéficos pode ajudar a controlar as pragas de forma mais eficaz. É, por isso, possível alcançar sucesso tanto em estufas quanto ao ar livre.
Por que motivo alguns produtores começam o controlo biológico e acabam por desistir?
Alguns produtores começam a utilizar o controlo bio- lógico, mas acabam por abandoná-lo devido a desafios iniciais, como a necessidade de ajustar as suas práticas de cultivo e a resistência à mudança. Também podem surgir problemas se os produtores não receberem o apoio técnico adequado ou se não estiverem totalmente empenhados na abordagem. No entanto, quando o controlo biológico é implementado correta- mente e com compromisso, geralmente tem sucesso. Prefiro chamar a esta abordagem de “proteção integrada”, que envolve várias estratégias para uma gestão eficaz de pragas e doenças.
Em Portugal, qual é a área de culturas ornamentais que beneficia das soluções Koppert e da assistência técnica prestada pela sua equipa?
Em Portugal, atendemos diversas culturas ornamentais, incluindo viveiros, flores de corte, plantas envasadas, entre outras. Embora não tenha a informação exata da área total, estimamos que atualmente cobrimos várias dezenas de hectares com as nossas soluções de controlo biológico e fornecemos suporte técnico especializado a todos estes produtores.
Quais são as principais tendências em controlo biológico em culturas ornamentais?
Nas culturas ornamentais, observamos tendências importantes no campo do controlo biológico. Uma das tendências notáveis é o crescente uso de soluções microbiológicas, sobretudo fungos (como o Mycotal e Trianum) e nemátodes (como o Entonem, Capsanem, Larvanem, etc). No entanto, é crucial destacar que a componente macrobiológica, que inclui insetos e ácaros predadores, continua e continuará a desempenhar um papel fundamental neste processo.
Além disso, estão a surgir outras soluções inovadoras que estão a impulsionar uma agricultura mais saudável, amiga do ambiente e sustentável, promovendo assim práticas agrícolas que são benéficas tanto para as culturas ornamentais como para o nosso planeta
O artigo foi publicado originalmente em APH.