O FiberLoop, que começou como um projeto para o acelerador de partículas da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), desenvolve em Coimbra a aplicação da tecnologia ao combate às fugas de água na rede.
O projeto teve o seu início quando Tiago Neves, formado em Engenharia Física na Universidade de Coimbra, foi para o CERN, na Suíça, onde realizou um doutoramento, com a proposta de criar uma tecnologia baseada em fibra ótica para deteção de temperatura e humidade no LHC (o maior acelerador de partículas do mundo).
“Há um departamento [do CERN] de transferência de tecnologia que ajuda pequenas ideias desenvolvidas dentro do CERN a criar um negócio. E surgiu a ideia de aplicar a tecnologia na deteção de fugas de água”, contou à agência Lusa o engenheiro físico, que criou em 2021 a empresa Fibersight, sediada em Coimbra, a sua cidade.
Desde 2021, tem desenvolvido o projeto centrado nas fugas de água, Fiberloop, em parceria com outra empresa de Coimbra, a Loop Company, usando os recursos humanos daquela tecnológica para desenvolver o negócio.
De momento, está a decorrer um primeiro projeto-piloto com cerca de 100 metros de fibra ótica enterrados no solo, com um tubo com fugas de água, procurando validar a tecnologia em ambiente real.
Ainda este ano, Tiago Neves prevê avançar com um projeto piloto “em ambiente definitivo”, tendo já tido reuniões com empresas municipais de água da região.
Segundo o responsável do projeto, “quando há uma fuga de água na rede, ela começa muito pequenina, como uma torneira a pingar”, que pode ficar por detetar durante vários anos, até gerar uma rutura maior, altura em que os “custos associados à reparação já são muito elevados”.
“Em média, na Europa, perde-se 30% da água injetada na rede. Portugal desperdiça todos os anos várias barragens do Alqueva em fugas. São 100 mil milhões de litros de água”, realçou.
Com a aplicação de fibra ótica, é possível medir com precisão e identificar antecipadamente fugas, que podem ficar por detetar “durante 10, 20 ou 30 anos”.
Para Tiago Neves, a tecnologia poderá aproveitar a instalação de tubagens novas, mas também pode recorrer a uma toupeira mecânica – tecnologia já muito utilizada pelas empresas de telecomunicações – para instalar fibra em zonas da rede que se considerem problemáticas.
“Para obras novas, os custos são desprezíveis face ao investimento global da obra. Quando começarmos a produzir fibra em escala, ficará a menos de um euro por metro”, realçou.
O projeto é um dos 12 que participaram no Ineo Start, programa de aceleração de tecnologias e ideias de negócio do Instituto Pedro Nunes de Coimbra, e cujos resultados são hoje apresentados a investidores e entidades regionais.
Em 2024, Tiago Neves espera que o projeto conheça o seu primeiro ano de crescimento, com captação de investimento externo, para em 2025 ter o produto pronto para ser lançado no mercado.
“2025 acaba por ser importante porque coincide até com algumas datas impostas pela Comissão Europeia em que os países são obrigados a reduzir as fugas de água”, notou, vincando que o projeto poderá ter facilmente aplicação em toda a Europa.
Para além deste projeto, Tiago Neves prevê outras possíveis aplicações e projetos recorrendo à fibra ótica, como é o caso da agricultura, onde poderá ser possível monitorizar a humidade do solo e concentração de água para otimizar processos de rega.