A Plataforma Água Sustentável (PAS) defendeu hoje maior uso de águas fluviais e residuais tratadas, e manifestou-se contra dessalinizadoras, captação de água no Guadiana ou construção de barragens.
Diz a PAS, que agrega 14 associações, que quanto às barragens, além dos impactos ambientais conhecidos, o aumento da temperatura/evaporação e diminuição da pluviosidade tornará o volume de água a armazenar cada vez menor.
Num comunicado hoje divulgado, a propósito da escassez de água, a organização deixa 14 propostas que considera “prioritárias e estruturantes”, incluindo a conservação do solo para otimizar a retenção de água pluviais, combater a erosão, promover o sequestro de carbono e garantir a salvaguarda das áreas integradas na Rede Ecológica Nacional.
Considera também importantes a reflorestação com espécies autóctones, diversificadas e resilientes, o restauro e reabilitação de linhas de água, o aproveitamento de água de escoamento superficial, o controle e gestão de cheias, ou a captação e armazenamento de águas pluviais nos edifícios.
A utilização de águas residuais tratadas, que já está a acontecer, mas que, diz, deve ser aprofundada, a redução de perdas nas redes urbanas e de regantes, e a manutenção de áreas de proteção dos aquíferos são outras propostas das associações.
Depois é preciso que haja um licenciamento e uma fiscalização de captações de água (subterrâneas e superficiais), bem como é preciso que as culturas agrícolas sejam adaptadas à quantidade de água existente e características climáticas da zona.
A PAS entende ainda que é preciso modificar os espaços urbanos verdes, que não fazem sentido com a escassez de água, devendo os relvados ser substituídos por outras espécies e ser plantadas árvores e arbustos menos exigentes em água.
As associações defendem também que o aumento de zonas de turismo, ou qualquer outro aumento urbanístico, só deve acontecer se existirem condições de sustentabilidade, como haver água, e deve ser restringida a construção de novas piscinas.
As associações admitem que não são simples as soluções para o problema da água, mas garantem que elas não passam por grandes obras de construção civil que aumentam a pegada ecológica, agravando o consumo de água, a desflorestação e a poluição do mar.
Segundo o comunicado, a PAS foi criada em 2020 e tem vindo a alertar para a “falta de resposta institucional atempada ao problema da escassez hídrica, designadamente na região do Algarve”, e tem mostrado “os efeitos negativos” de algumas propostas oficiais.
A construção de uma dessalinizadora no Algarve representa um custo elevado e não resolve o problema da falta de água, afirma a plataforma.
Sendo a agricultura o maior consumidor de água no país e no Algarve, questionam as associações quantas centrais de dessalinização terão de ser construídas para abastecer a agricultura.
A dessalinização “tem acoplada uma discriminação social: responsáveis oficiais têm sistematicamente reafirmado que a água das barragens, custeada por dinheiros públicos, se destina ao uso agrícola privado, e será comercializada a um preço mais baixo do que a obtida por dessalinização, destinada ao consumo público, mas proveniente de uma empresa privada ou em parceria público-privada”.
Depois, diz também a PAS, sugestões do Estado de novas barragens ou a captação de água no rio Guadiana são propostas que entram em contradição com a Diretiva Quadro da Água e com outros documentos, como a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas.
A plataforma aponta também um contrassenso no estudo “Regadio 2030”, que propõe que se alargue a área de regadio no Algarve e Alentejo. “Como se explica este alargamento, perante a escassez de água?”, pergunta a PAS, que junta diversas associações nomeadamente do Algarve e outras de âmbito nacional, como a LPN ou a Quercus.