Chef Chakall prepara refeições de baixa pegada de azoto e cria para o jantar do workshop uma ementa “demitariana”
Cientistas europeus estão reunidos em Lisboa até amanhã para encontrar soluções que diminuam a poluição causada pelo azoto. Por ano, perdem-se 14 mil milhões de euros na União Europeia por má gestão do azoto na Agricultura.
O NitroPortugal, cuja 1ª reunião decorre desde ontem em Lisboa, visa colocar Portugal na liderança da boa gestão do azoto, através de uma abordagem multidisciplinar, que junta os diferentes elos do ciclo de produção do azoto. Neste 1º workshop os cientistas discutem os impactos das perdas de azoto para a água e no solo.
O projeto europeu NitroPortugal, liderado pelo Instituto Superior de Agronomia, visa realizar o diagnóstico dos níveis de poluição azotada na água, nos solos e no ar e calcular o seu impacto nos ecossistemas e na biodiversidade em Portugal. Participam no projeto cientistas do Centro de Hidrologia e Ecologia, do Reino Unido, e da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
Investigadores e governos estão focados na melhoria da eficiência do uso do azoto na Agricultura e na Pecuária, que são as principais fontes de emissões de azoto reativo para o Ambiente. Em Portugal, o setor primário contribui com 87% do total de emissões de azoto para os cursos de água (rios, lagos, etc), sendo os efluentes de origem animal a principal fonte de poluição, de acordo com dados revelados pela Agência Portuguesa do Ambiente.
«Estimamos que apenas 20% do azoto usado na agricultura na União Europeia (UE) é aproveitado pelas plantas, o restante perde-se e é uma fonte de contaminação dos solos, da água e do ar», explica Mark Sutton, investigador do Natural Environment Research Council, do Reino Unido, um dos coordenadores do NitroPortugal. «Acreditamos que uma mensagem positiva, que explique aos agricultores europeus as vantagens económicas do uso mais eficiente do azoto, é a chave para uma economia mais eficiente», defende.
«Queremos perceber qual é o impacto real no azoto em Portugal, e como podemos poupar milhões de euros através de melhores práticas de gestão do azoto, que irão contribuir para um melhor desempenho da economia portuguesa», acrescenta o investigador.
Os cientistas calculam que o uso excessivo de fertilizantes à base de azoto na Agricultura gera prejuízos de cerca de 14 mil milhões de euros na economia da UE, ou seja, o equivalente a 25% do total do orçamento da PAC (Política Agrícola Comum).
A Dinamarca e o Reino Unido são um bom exemplo no que respeita à monitorização e à implementação de
políticas de controlo das perdas de azoto para o Ambiente. A Dinamarca implementa há 30 anos uma política
rigorosa que lhe permitiu diminuir em 50% a concentração de azoto nos cursos de água, através da
regulamentação da atividade agrícola e da sensibilização dos agricultores para a adoção de boas práticas,
nomeadamente a instalação de culturas fixadoras de azoto no Inverno, a criação de zonas tampão junto aos
cursos de água e a instalação de charcas para depuração das águas residuais nas parcelas agrícolas.
Baixa pegada de azoto
«Para reduzir a pegada de azoto é extremamente importante que cada um de nós reforce pequenos gestos diários,
contrariando uma atitude excessivamente consumista», afirma Cláudia Marques-dos-Santos Cordovil, professora
do ISA e coordenadora do NitroPortugal. A escolha de produtos agrícolas com certificação ambiental, o
consumo de carne nas doses recomendadas pelos nutricionistas, e a redução do desperdício alimentar ou ainda
a restrição do uso do automóvel nas deslocações diárias são exemplos de comportamentos a adotar.
Investigadores do ISA desenvolveram um website – www.pegadadoazoto.pt – que permite ao cidadão comum
calcular a sua pegada de azoto, baseado em informação sobre comportamentos de consumo.
Esta noite, o chef Chakall recebe os participantes do workshop, no restaurante El Bulo, em Lisboa, num jantar
com baixa pegada de azoto. A refeição será confecionada seguindo o princípio da “Dieta Demitariana”, que
consiste em utilizar metade da dose de carne habitual na confeção dos pratos, com o propósito de proteger o
ambiente. A carne usada na confeção do jantar provém de animais criados em pastagem (sistema extensivo) e
será acompanhada de leguminosas e outros legumes.
Que impacto tem o azoto na nossa vida?
O nitrogénio (azoto) é um nutriente essencial à vida na Terra, existe em abundância na atmosfera (78% do ar
que respiramos é azoto elementar), intervém na construção de diversas moléculas, como o DNA, as proteínas,
as enzimas ou as vitaminas, e é o elemento mais importante para a nutrição das plantas (sob a forma amoniacal
e de nitratos).
O nitrogénio torna-se um problema a partir do momento em que as suas formas reativas (iões e gases) são
libertadas em doses excessivas para o Ambiente, gerando impactos negativos no solo, água, ar e na
biodiversidade.
Para mais informações contactar:
Cláudia Marques dos Santos Cordovil, Professora do Instituto Superior de Agronomia
Coordenadora do projeto NitroPortugal e Co-coordenadora do TFRN – Task Force on Reactive Nitrogen
cms@isa.ulisboa.pt
Mark Sutton, Investigador do Natural Environment Research Council
Coordenador do projeto Towards INMS-International Nitrogen Management System e Co-coordenador do TFRN – Task Force on Reactive
Nitrogen
ms@ceh.ac.uk
Nélia Silva
Comunicland-Comunicação e Marketing Lda
geral@comunicland.pt
+351 966921904