Os sistemas agropecuários (incluindo cadeia de abastecimento) foram responsáveis por 12% de todas as emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa (GEE) em 2015. Agora, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) aponta, num novo relatório, os caminhos para a mitigação das emissões, enquanto se responde ao crescimento esperado de 20% na procura até 2050.
A adoção das melhores práticas – incluindo sistemas agroflorestais e pastagens rotativas otimizadas – em todas as pastagens mundiais levaria a uma capacidade de sequestro de emissões capaz de eliminar quase um terço das atuais emissões anuais do setor. No entanto, a nível financeiro, a mudança pode não ser viável a curto e médio prazo.
Do mesmo modo, a substituição de uma parte da dieta do suíno por lavadura proveniente de resíduos domésticos pode conduzir a reduções drásticas nas emissões globais de azoto, mas exigiria investimentos adequados em infraestruturas, políticas e regulamentos para garantir a segurança dos alimentos para animais e reduzir os riscos de desencadear surtos de doenças animais, como ocorreu recentemente com a peste suína africana na Ásia.
Algumas soluções de mitigação comprovadas, como a reprodução avançada e misturas de alimentos para animais – incluindo novos aditivos para a alimentação animal – podem não ser adequadas em todos os lugares devido a questões de custo, segurança e acessibilidade.
“É pouco provável que os sistemas baseados em pastagens, por exemplo, beneficiem de estratégias concebidas para sistemas alojados. Além disso, os efeitos atenuantes da redução do consumo de alimentos de origem animal dependerão do que os substituir”, aponta a FAO.
Finalmente, aumentar a saúde animal é uma abordagem robusta para aumentar a eficiência da produção animal e a disponibilidade de proteína animal sem exigir efetivos maiores.
A FAO nota que os caminhos para produzir mais com menos emissões estão disponíveis para todas as regiões e sistemas de produção. Para maximizar o potencial de mitigação é “crucial facilitar o acesso dos agricultores aos serviços e investir na sua capacidade de implementar intervenções adaptadas”.
Além disso, as estratégias devem ser adaptadas às circunstâncias locais e integradas de forma holística em programas mais amplos que apoiem a resiliência e os meios de subsistência rurais, bem como outros objetivos de sustentabilidade.
As emissões pecuárias em detalhe
O relatório fez também um retrato das emissões da pecuária. Em 2015, os sistemas agroalimentares pecuários foram responsáveis por aproximadamente 6,2 mil milhões de toneladas de emissões equivalentes de CO2 (GtCO2eq) por ano, o equivalente a cerca de 12% de todas as emissões antropogénicas de GEE. O valor também representa cerca de 40% do total das emissões dos sistemas agroalimentares, estimado pela FAO em cerca de 16 GtCO2eq.
Sem alterações e ganhos de produtividade, é provável que o aumento da procura conduza a um aumento das emissões globais da pecuária para as quase 9,1 GtCO2eq até 2050.
Os bovinos – incluindo carne e leite – contribuem com cerca de 3,8 GtCO2 equivalente por ano, ou 62% do total da pecuária, enquanto 14% são atribuídos a suínos, 9% às aves de pecuária, 8% a búfalos e 7% a pequenos ruminantes. A produção de carne responde por dois terços das emissões, o leite 30% e os ovos o restante.
As emissões diretas, incluindo o metano da fermentação entérica por ruminantes e o óxido nitroso dos sistemas de gestão do estrume, representam 60% das emissões totais da pecuária.
Metodologia
A estimativa foi gerada pelo Global Livestock Environmental Assessment Model (GLEAM), ferramenta da FAO que, através de um enquadramento aeroespacial, analisa dados da atividade dos vários sistemas de produção pecuária no mundo e calcula a sua pegada de carbono.
A GLEAM utiliza uma abordagem de avaliação do ciclo de vida que abrange as emissões associadas à criação de animais, incluindo a fermentação entérica, bem como as emissões indiretas decorrentes de atividades a montante, como a alimentação animal e outros fatores de produção, e parte dos processos a jusante, incluindo transporte, processamento e embalagem de matérias-primas. Não abrange as fases de venda a retalho e de uso doméstico.
Pela primeira vez, o relatório da FAO comparou as estimativas da GLEAM com as emissões independentes relacionadas à pecuária que fazem parte dos dados de emissões dos sistemas agroalimentares da FAOSTAT.
“Uma comparação item a item dos processos de emissão relevantes mostra que as duas estruturas de dados fornecem estimativas consistentes dos níveis de emissões, com o FAOSTAT a oferecer uma abordagem mais abrangente de sistemas agroalimentares, enquanto o GLEAM permite que os utilizadores realizem análises muito mais detalhadas das opções de mitigação em sistemas pecuários”, nota a FAO.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.